O grau de imprevisibilidade de um sistema aumenta com o tempo. Essa é a formulação mais precisa da segunda lei da termodinâmica, e, nesse particular, portanto, o lema “ordem e progresso” é uma contradição — nos termos da física — à entropia. Em nosso universo observável, composto por partículas e ondas, o passar do tempo (progresso) implica necessariamente em mais imprevisibilidade (desordem). O movimento dadaísta, de certa forma, estava afinado a esse princípio universal ao valorizar, nas obras artísticas, o caos conceitual e o espírito anárquico como reação ao ‘progresso’ técnico veloz do início do século XX — que patinava, por sua vez, diante da involução social, dos horrores da Primeira Guerra e da epidemia da ‘gripe espanhola’. O “Cabaret Dada” dos Satyros surge em reação a ‘tudo isso que tá aí’, porque o nonsense, a aleatoriedade e a irracionalidade são potências apenas no campo artístico, já que a realidade sociopolítica exige justamente o contrário: lógica, ordem e estabilidade. O importante a se entender no caso da famosa vanguarda histórica, nos posteriores movimentos neodadaístas ou nessa nova produção satyriana é que o randômico e o casual compõem, como proposta estética, apenas a superfície de comunicação com o público, porque os processos de criação em si são complexos, exigem estudo, raciocínio e método, enfim, qualquer coisa pode virar arte, porém arte não é qualquer coisa. Em tempos de golpe, necropolítica e genocídio, quando a banalidade é vista como orgulho e a intolerância como virtude, “Cabaret Dada” se torna um espetáculo ainda mais essencial, em suas janelas de dramaturgia militante e de visualidades inusitadas em prol do direito ao delírio e à liberdade.
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