Tenho pensado que talvez rezar seja outra forma de respirar. Não esse respirar automático, que mantém o corpo em funcionamento, mas aquele que reconhece a própria finitude e, ainda assim, insiste em ser leve. Tenho rezado. Não por fé, mas por afeto. Por vocês. Por mim, já rezei o suficiente. Agora quero me deslocar do centro e me colocar ao lado. Nas brechas de qualquer confronto. Nos espaços onde o olhar é mais importante que a palavra.
Rezar, aqui, não é súplica nem redenção. É exercício de alteridade. É o gesto de quem tenta enxergar o outro sem hierarquias, sem o peso da compaixão, que às vezes traz escondida uma ideia de superioridade. A alteridade é o chão comum. É quando a gente entende que o sofrimento e a beleza têm o mesmo endereço. Que não há ninguém acima ou abaixo, há apenas gente. Inteira, imperfeita, pulsante.
Eu rezo, sim, mesmo sem acreditar nesse Deus que se apresenta como promessa de salvação. Creio na força do encontro, no atrito entre as coisas, no movimento que causa efeito. Creio que cada gesto de cuidado altera um pedaço do mundo. E isso, pra mim, já é milagre o suficiente.
Por isso vou rezando. Cantando, dançando, deitado, rindo, chorando. Rezo pelo vento que passa e pelos que vieram antes, pelos que se foram e pelos que ficaram. Rezo pela capacidade de olhar horizontalmente pra vida, com alguma clareza, sem a urgência de entender tudo.
E, enquanto rezo, percebo. Talvez o mundo não precise de mais fé. Precise, isso sim, de mais escuta. De mais corpos dispostos a partilhar o silêncio. Porque, no fundo, toda oração é uma conversa interrompida com o que ainda não sabemos nomear.
