Cinemas de rua driblam a ‘morte’ e vivem nova onda em São Paulo; conheça

Num domingo à tarde, casais e grupos de amigos tomam drinques, comem sanduíches e conversam nas mesas com vista para a Praça da República, no centro de São Paulo.

Ali, os QR Codes do cardápio chegam em caixas de fitas VHS e as bebidas são batizadas com nomes de filmes e séries, como “Casablanca” e “Sex and the City”.

Dez minutos antes de a sessão do cinema começar, boa parte das pessoas se levanta e se dirige à sala escura no subsolo do estabelecimento.

Trata-se do Cineclube Cortina, um antigo estacionamento que foi transformado em cinema, restaurante, bar, casa de shows e espaço para festas.

Inaugurado em julho do ano passado, o Cineclube Cortina nasceu com o objetivo de ser um espaço multiuso com outras fontes de renda, além da bilheteria do cinema.

Cineclube Cortina - Divulgação - Divulgação

“Estudamos bastante esse mercado e sabemos que não é a venda de ingressos de filmes que vai dar o retorno financeiro do negócio, são as outras frentes que trazem a receita. Mas somos cinéfilos e quisemos ter o cinema como o eixo central do Cortina.” Marcelo Sarti, um dos três sócios do estabelecimento

Ali o público senta em espreguiçadeiras espalhadas em frente à tela digital e assiste a longas-metragens que concorreram ao Oscar deste ano, como “A Baleia” e “Aftersun”, ou a filmes que marcaram época, como “Pulp Fiction” e “Os Bons Companheiros”.

Cinemas de rua - Cinemas de rua - Cineclube Cortina - Divulgação - Divulgação

Distância dos blockbusters

Em comum, o fato de passarem longe do circuito comercial dos shopping centers, atraindo um público mais alternativo. É o caso do diretor de fotografia Pedro Maciel, de 22 anos. Antes de se mudar para a Vila Madalena, na zona oeste paulistana, Maciel morava a alguns quarteirões do cineclube.

A fachada do Cineclube Cortina - Léo Martins - Léo Martins

“Agora moro em outro bairro, mas continuo indo lá porque curto a curadoria, principalmente a de filmes antigos. Ali pude rever alguns dos meus filmes favoritos, como a trilogia “Antes do Amanhecer”, “Antes do Pôr do Sol” e “Antes da Meia-Noite”, do Richard Linklater”, conta.

Quando a sessão de cinema termina, as 80 cadeiras são retiradas e o espaço se transforma em local de shows e festas para até 500 pessoas. A programação musical é eclética, indo do rock alternativo ao rap, das brasilidades à música latina, do funk ao R&B e soul.

Cinemas de rua - Cineclube Cortina - Léo Martins - Léo Martins

“Já tivemos shows de artistas veteranos, como Arnaldo Antunes, a novos talentos, como as irmãs Tasha & Tracie. O público de 25 anos para cima varia de acordo com as atrações do dia”, explica Sarti.

 

Foco no cinema nacional

Espaço de resistência artística durante a ditadura militar, o Cine Bijou foi outro espaço que abriu as portas em 2022. A antiga sala de cinema funcionou de 1962 a 1996 na praça Roosevelt, na Consolação, e foi reinaugurada em janeiro do ano passado, com o nome de Cine Satyros Bijou — Sala Patricia Pillar.

Patricia Pillar na inauguração da sala que leva seu nome - André Stefano - André Stefano

Com 77 lugares, o cineclube teve as poltronas vermelhas restauradas, assim como as paredes e o teto desenhado em gesso. A programação é voltada principalmente para a exibição de longas-metragens nacionais.

“São filmes de arte que dificilmente vão ser exibidos no circuito comercial” Ivam Cabral, ator, dramaturgo e diretor do espaço.

Patricia Pillar na inauguração da sala que leva seu nome - Divulgação - Divulgação

A atriz Patricia Pillar, os dramaturgos Walcyr Carrasco e Maria Adelaide Amaral e a artista plástica Maria Bonomi estão entre os que participaram de uma vaquinha para ajudar a pagar os custos de aluguel, reforma e compra de equipamentos da sala também usada para apresentações teatrais e musicais.

Com ingressos gratuitos ou a preços populares de R$ 5 a R$ 20, o espaço é frequentado principalmente por estudantes de cinema e moradores dos prédios em torno da Praça Roosevelt.

Segundo Cabral, um dos diferenciais do Cine Bijou são as sessões especiais, que têm bate-papo do público com diretores, roteiristas e atores que participaram dos filmes exibidos.

Cinemas de rua - Cine Satyros Bijou -- Sala Patricia Pillar - André Stefano - André Stefano

“Na comemoração dos 50 anos de ‘O Pagador de Promessas’, por exemplo, fizemos uma sessão com a presença do ator Antonio Pitanga, que atuou no longa“, conta Cabral.

“Nossa ideia é servir como um celeiro de debates, um espaço de partilha de pessoas que não se conhecem, mas que possuem anseios e interesses em comum”, acrescenta o dramaturgo.

 

Cinema de bairro e uma garrafa de vinho

Em Perdizes, na zona oeste, o Cine LT3, uma sala de apenas 35 lugares, atrai moradores da região para sessões que acontecem de quinta a domingo, às 16h, às 18h e às 20h. Com ar retrô, as poltronas de couro vermelho foram trazidas de um cinema desativado em Franca, no interior paulista.

“Nossa proposta é resgatar o cinema de bairro de antigamente, onde é possível encontrar os vizinhos e assistir a um bom filme.” Carlos Costa, proprietário.

Cine LT3 - Instagram/Reprodução - Instagram/Reprodução

A sala foi inaugurada em agosto do ano passado onde antes funcionava um dos estúdios da produtora audiovisual LT3.

O produtor e a mulher, Diane, que é dentista, são os responsáveis por vender os ingressos, fazer a pipoca e servir as bebidas.

Para atrair o público, o casal organiza sessões especiais com degustações de vinho, queijo ou pizza.

Cinemas de rua - Cinemas de rua - Cineclube Cortina - Divulgação - Divulgação

“As pessoas se acostumaram a ver os filmes no streaming, um hábito que se acentuou com a pandemia. Para convencê-las a irem ao cinema, é preciso oferecer algo mais“, explica Costa. Os ingressos têm preços mais baratos que os de grandes salas de cinema: custam 20 reais a inteira. Na compra do pacote com 10 ingressos, cada entrada sai por 10 reais.

Frequentadora do lugar, a advogada Izabela Borges Silva, de 34 anos, é moradora do bairro e vai a pé ao LT3.

“Gosto da pegada intimista de lá: o atendimento é personalizado e os donos não se importam se você levar uma garrafa de vinho para tomar com os amigos. Virou um ótimo programa para o final de semana.”

Na opinião de Costa, mesmo com a concorrência dos serviços de streaming, os cinemas de rua vão continuar existindo porque oferecem experiências que não podem ser reproduzidas no sofá de casa.

“Não vai tocar a campainha, o celular tem que ficar no silencioso. Você se livra das distrações do mundo lá fora e sabe que não vai conseguir parar o filme para ver depois, então mergulha na história. Na sala escura, você esquece da sua vida por algumas horas e vive a dos personagens. Essa é a magia do cinema, que vai continuar encantando as pessoas”, resume.

 

Serviço

Cineclube Cortina – Rua Araújo, 62, República, SP. (@cineclubecortina)

Cine Satyros Bijou – Praça Franklin Roosevelt, 172, Consolação, SP. (@satyrosbijou)

Cine LT3 – Rua Apinagés, 135, Perdizes, SP. (@cine_lt3)

 

Fonte: UOL

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