Chiquinho Medeiros que tinha o sorriso mais lindo do mundo

  • Na foto, Francisco Medeiros (2º da esq. para dir.) ao lado dos artistas fundadores da SP Escola de Teatro: Hugo Possolo, Rodolfo García Vázquez, Joaquim Gama, Cléo De Páris, Raul Teixeira, Marici Salomão, Guilherme Bonfanti, JC Serroni e Ivam Cabral 

Eu pensei em não escrever nada. Mas como ficar em silêncio diante de uma notícia tão triste como esta? A última vez que vi o Chiquinho foi numa visita que eu e o Joaquim fizemos a ele, no hospital A. C. Camargo, menos de um mês atrás. Fomos doar sangue pra ele. Eu não consegui. Doador desde sempre, não ia a um banco de sangue desde a descoberta de um carcinoma na tireoide. Mas como era uma prática minha, quando soube que o Chiquinho precisava de uma ajuda dessas, lá fomos eu e o Joaquim ao banco de sangue do hospital que nos informou que, quem já teve algum câncer, não pode ser mais doador. Lembro-me bem da tristeza que foi sair dali, naquele dia, da impotência, sabe? 

Foi tão lindo encontrar o Chiquinho neste dia, com o sorriso mais lindo do mundo! Acho que era a marca registrada dele. Conheço poucas pessoas no mundo inteirinho que têm um sorriso tão iluminado como o dele. Mais do que sorridente, estava cheio de esperança, acreditando que sairia dali e que tudo daria certo. Infelizmente, sabíamos que não seria tão simples assim. Seu câncer já estava em metástase.

Trabalhamos juntos aqui, na SP Escola de Teatro, durante alguns anos. Chiquinho era de uma dedicação impressionante. Ético, sobretudo. Não houve uma única vez que descumpriu qualquer acordo. Neste período, conversamos e trocamos muito. Chiquinho me passou dicas de leitura, de filmes, de música, de meditações. Quando ele chegou na escola eu estava começando a estudar o budismo, estudando muito, buscando literaturas e inspirações. Chiquinho esteve muito próximo de mim neste momento; que foi, também, o de descoberta do meu câncer. Felizmente consegui sair dessa. Meu amigo não teve a mesma sorte…

Chiquinho era dos grandes diretores deste país. Vi peças incríveis dirigidas por ele. Como “Artaud, o Espírito do Teatro” (1985), de José Rubens Siqueira, ainda na época em que estudava teatro em Curitiba; “Suburbia” (2002), de Eric Bogosian, “A Noite Antes da Floresta” ( 2006), de  Koltès. Foram inúmeros trabalhos geniais dirigidos por ele. Foi, talvez, um dos grandes gênios da direção de atores no Brasil. Sabia fazer isso como poucos. Era, também, excelente professor.

Falávamos com alguma frequência. Nos últimos tempos, mais através  de mensagens no Whatsapp. Estava em Portugal, cheguei ontem à noite; e, lá, ia recendo mensagens dos amigos que iam me informando sobre o seu estado de saúde. Sabíamos que estava sendo difícil. Mas Francisco Medeiros, o nosso Chiquinho, sai de cena pleno, grande, enorme. Certeza que seus últimos suspiros, ainda que doloridos, devem ter saído de um sorriso, de um enorme sorriso, o mais lindo do mundo!  

Vá em paz, querido. E obrigado pelos ensinamentos.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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5 comentários em “Chiquinho Medeiros que tinha o sorriso mais lindo do mundo

  1. SIM! Acredito que o sorriso dele era seu cartão de visita e marca pessoal. Eu o conheci, por meio da Cooperativa de Teatro, lá em 96, 97, quando na gestão de Luiz Amorim, uma série de oficinas foram feitas com artistas como Eudósia Acunã, Bete Dorgam, entre outros. Foi uma experiência reveladora! Ele, de fato, era uma personalidade, rápida, alegre, enérgica, muito viva!
    Esporadicamente, toda vez que o encontrava, aqui e ali, em evento da classe, ou quando assistia algo seu, lá vinha ele, com o sorrisão na cara! Descansou. Vai montar algo em algum lugar…

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