BALANÇO | A primavera que trouxe 30 mil pessoas à Praça Roosevelt

A 26ª edição das Satyrianas terminou à meia noite, na Praça Roosevelt, em São Paulo, registrando números que confirmam o festival como um dos maiores eventos de artes cênicas do país. Ao longo de quatro dias, o público acompanhou 482 atrações de circo, música, dança, performance, cinema e teatro, reunindo 1.928 artistas vindos de 21 estados brasileiros, além de participantes internacionais.

Entre as presenças estrangeiras, destacaram-se o diretor alemão Robert Schuster, da Universidade Ernst Busch de Berlim, que apresentou um exercício de conclusão de processo, A Arte da Ação, e o performer português Tiago Porteiro, da Universidade do Minho, que dividiu a cena com Matteo Bonfito na performance des-lo-car-se / displace us. A programação combinou nomes consagrados com jovens artistas, ocupando diversos espaços da praça, como o Espaço dos Satyros, Parlapatões, Cine Bijou, SP Escola de Teatro, Espaço Mamadi e duas lonas instaladas especialmente para o evento, uma delas dedicada exclusivamente ao circo.

Na quinta-feira, 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, a Satyrianas também pulsou em sintonia com a data. Este ano, ampliamos de forma significativa a participação de artistas negros e de grupos historicamente vulnerabilizados, incluindo pessoas com deficiência e trans. A presença desses criadores, em suas múltiplas linguagens, potências e modos de existir, não apenas enriqueceu a programação, mas reafirmou o compromisso do festival com a diversidade, a equidade e a construção de uma cena verdadeiramente plural.

Segundo a organização, cerca de 30 mil pessoas circularam pela região durante o festival. Os organizadores destacam que a adesão superou as expectativas e reforça o caráter popular e democrático das Satyrianas. As atividades, gratuitas ou pague quanto quiser, ocorreram sem intercorrências, e até mesmo a chuva que estava prevista para o período acabou adiando sua chegada para depois do encerramento, já na madrugada de desmontagem das estruturas.

Realizado tradicionalmente pela Cia. de Teatro Os Satyros com orçamento reduzido e forte mobilização voluntária, o festival ainda enfrenta desafios operacionais. A produção reconhece que o evento depende majoritariamente da colaboração dos artistas e do engajamento do público. “É um evento gigantesco feito com poucos recursos e muita entrega. Dependemos de gente, de quem cria e de quem assiste”, afirmou Rodolfo García Vázquez, diretor dos Satyros.

A edição deste ano também foi marcada por acontecimentos paralelos no exterior. Dez dias antes do início do festival, parte da equipe viajou a Cuba para apresentações de A Casa de Bernarda Alba no Festival de Havana, produção que recebeu críticas positivas da imprensa local. Simultaneamente, em Estocolmo, estreou A Neve do Brasil – Anna, Você Pode Ficar, texto de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez encenado pelo grupo sueco Darling Desperados, integralmente em sueco, também bem recebido pela crítica.

O clima de celebração reforça a simbologia da estação. Para os organizadores, a primavera que tomou conta da Praça Roosevelt traduz não apenas o aumento do público, mas também um movimento de renovação artística e afetiva. “O futuro está chegando, e é bom perceber que ele nos encontra disponíveis”, declarou Gustavo Ferreira, coordenador geral do evento.

A expectativa é de que o festival continue crescendo, mantendo sua vocação de abertura, diversidade e experimentação. “Que as primaveras nos abençoem e nos ajudem a abandonar o que, no fundo, nunca foi nosso”, concluiu Ivam Cabral, um dos idealizadores do evento.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
Post criado 1993

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