“”AS BRUXAS DE SALÉM” ou (“TEATRÃO” NA VEIA; NO MELHOR SENTIDO.)

Todas as vezes que vou a São Paulo, reservo uma noite para ir até a Praça Roosevelt, a fim de assistir ao espetáculo que está sendo encenado no “Espaço dos Satryros”, pela companhia que leva o mesmo nome, sempre sob o comando de IVAM CABRAL e RODOLFO GARCÍA VÁSQUEZ. Há cerca de quinze dias, mais propriamente no último dia 29 de julho (2023), pude assistir a uma peça pela qual tanto ansiei, “AS BRUXAS DE SALÉM”, que alguns chamam de “As Feiticeiras de Salém”, um clássico da literatura dramática, que nos foi legado pelo gênio de ARTHUR MILLER, um dos maiores dramaturgos norte-americanos, o qual aqueles que amam o bom TEATRO admiram e conhecem mais, talvez, por outra obra, “A Morte do Caixeiro Viajante”, encenada em muitos países, inclusive no Brasil, com inúmeras montagens, algumas memoráveis. “A Morte…”, de 1949, venceu o “Prêmio Pulitzer de Teatro” e três “Prêmios Tony”, bem como o “Prêmio do Círculo de Críticos de Teatro de Nova Iorque”. “AS BRUXAS…” estreou, na Broadway, em 1953, onde fez carreira em duas temporadas, próximas uma da outra, a primeira “morna”, mas a segunda com grande sucesso. Também merecem destaque, na sua vasta obra, “Panorama Visto da Ponte” (1955) e “O Preço” (1968), dois outros grandes clássicos da dramaturgia universal. MILLER faleceu em 2005, com quase 90 anos. Na peça aqui comentada, o dramaturgo trata de assuntos muito delicados e próximos a si, já que vivenciou momentos difíceis, em sua vida, relacionados à política, chegando a ser condenado e preso, sob a suspeita de pertencer ao Partido Comunista, um grande “bicho-papão” para os norte-americanos.

Sempre demonstrei minha grande admiração por esse texto, cujo conteúdo estudei, com certa profundidade, durante minhas aulas de literatura americana, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, nos idos de 1971 ou 1972 sob a orientação de um renomado mestre norte-americano, porém confesso, até com um pouco de vergonha, por minha incapacidade criativa, que jamais poderia imaginar que, um dia, assistiria a uma encenação desse texto como a que vi, sob a direção de RODOLFO GARCÍA VÁZQUEZ, o qual, junto com IVAM CABRAL, percebeu tantos pontos de interseção entre o momento político-social em que se passa a trama e os últimos anos no Brasil, sob o mesmo aspecto, a partir da polarização da sociedade brasileira contemporânea, mormente entre o triste episódio da “Operação Lava Jato” e a frustrada, absurda, inconcebível, inconsequente e antidemocrática tentativa de golpe, de 8 de janeiro do corrente ano.

 

SINOPSE:

Na pequena cidade de Salém, Massachusetts, durante o século XVII, uma onda de histeria toma conta da comunidade, quando um grupo de meninas adolescentes acusa várias mulheres da cidade de bruxaria.

Entre as personagens principais estão John Proctor (HENRIQUE MELLO), um fazendeiro respeitado na comunidade; o Reverendo Parris (GUSTAVO FERREIRA), um pastor ambicioso e inimigo de Proctor; Abigail Williams (JULIA BOBROW), a jovem sobrinha do reverendo, que teve uma paixão frustrada; Elizabeth Proctor (ELISA BARBOZA) esposa de John; e o Reverendo Hale (DIEGO RIBEIRO), um especialista em bruxaria, enviado para investigar as acusações.

Conforme as acusações se multiplicam, a cidade é tomada pelo medo e paranoia, dividindo-se entre aqueles que acreditam nas acusações e os que desconfiam das motivações das jovens.

John Proctor se vê no centro do conflito, lutando para proteger sua esposa e enfrentando seu próprio passado.

A peça aborda temas profundos, como a manipulação, a histeria coletiva, a moralidade e o preço da integridade.

À medida que a narrativa se desenrola, os personagens são testados, em sua coragem e moral, revelando segredos sombrios e forjando alianças inesperadas.

“AS BRUXAS DE SALÉM” é uma alegoria. que explora as tensões entre polos extremos, como a verdade e a mentira, a justiça e a injustiça, deixando o público imerso em um enredo repleto de conflitos morais e emocionais, que estabelece relações diretas com a violência política, a manipulação, a política de cancelamento, a pós-verdade e as “fake news” de hoje.

 

Fonte: O Teatro Apresenta

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