Emilio Di Biasi foi um grande amigo. Nos conhecemos no final dos anos 1980, em Curitiba. Quando vim pra São Paulo, em 1989, ele comandava as oficinas de atores na Globo, além de dirigir novelas na emissora. Tentou me levar pro Rio algumas vezes. Achava que eu deveria fazer novelas e, por sua insistência, eu quase fui fazer a minisserie “Tereza Batista”, dirigida por Paulo Afonso Grisoli, em 1992. Mas as gravações seriam na Bahia e eu teria que interromper a bem sucedida temporada da peça “Sades ou Noites com os Professores Imorais”, que estava sendo apresentada em São Paulo.
Mais de uma década depois, em 1994, Emilio teimava que Os Satyros tivessem uma sede no Rio de Janeiro. Nesta época, mais uma vez, insistia para que eu estreasse na TV. Chegou a marcar um encontro meu com o Jorginho Fernando, que iria dirigir a nova novela das oito, “A Próxima Vítima”. contei isso aqui.
Quando, enfim, Os Satyros aportaram na Praça Roosevelt, Emilio passou a ser um de nós. Frequentava o espaço e chegou a dirigir vários trabalhos no nosso espaço. Inclusive um texto incrível do Contardo Calligaris, “Pequenos Furtos”, em uma edição das Satyrianas. Mas foi em 2006 que eu me encontraria com o diretor Emilio, na montagem de “O Anjo do Pavilhão Cinco”, texto incrível do Aimar Labaki, a partir do original de Drauzio Varella, um dos meus trabalhos como ator que tenho o maior orgulho.
Neste período, de 2006 até 2012, a Praça Roosevelt era um dos endereços do Emilio, que poderia ser visto por ali diariamente. Éramos confidentes, melhores amigos e dividíamos muitos segredos. Mas aí, em 2012 a memória do Emilio começou a traí-lo. Já sem condições de morar sozinho, com Alzheimer, sua família o levou para Recife, onde vive sua irmã Lucia, que cuidou dele até hoje.
Emílio foi um homem de teatro enorme. Ao lado dos mestres Antonio Abujamra e Lauro Cesar Muniz, fundou o Grupo Decisão que, nos anos 1960, teve uma atuação incrível. Dirigiu, em 1968, o clássico “Cordélia Brasil”, de Antonio Bivar, com Norma Bengell. Foi também um ator excepcional, tendo atuado (muito) no teatro, no cinema e (menos) na TV. Tinha 81 anos.
Ah, a vida…
+++ na foto, uma matéria do jornal O Globo, de 2007, falando da Praça Roosevelt, com o Emilio sentado em uma das mesinhas do Espaço dos Satyros
Fui amiga do Emílio e fiz 4 peças com ele, e faria muito mais se Emílio não tivesse ficado doente…