Essa foto foi tirada no início de março de 2007, numa tarde muito quente, no apartamento onde Paulo Autran viveu seus últimos tempos, na Alameda Casa Branca, nos Jardins.
Neste dia, Paulo estava especialmente radiante. Nos recebia em sua casa para gravar uma cena do espetáculo “O Dia das Crianças”, que o Sergio Roveri escreveu e que eu dirigi. Estavam, além de mim, o Laerte Késsimos, a Cléo De Páris e o Germano Soares Baía, autor da foto, postada por ele hoje em seu perfil no Facebook.
Então, como nossa peça tinha, digamos assim, uma estética muito peculiar – um texto infantil passado num reino distante, muito distante –, toda pesquisa partia da commedia dell’arte e nossos figurinos e adereços, espalhafatosos, tinham como inspiração os trajes medievais.
Mas o mais curioso no visagismo da peça eram as perucas produzidas com materiais emborrachados multicoloridos. E aí residia a nossa insegurança. Como fazer com que o maior ator do País vestisse um figurino desses? Que poderia tranquilamente beirar o ridículo, caso não fosse contextualizado.
Mas Paulo, elegante e generoso como só, não precisou de nenhum argumento. Vestiu rapidamente o figurino e a peruca emborrachada e divertiu-se conosco. E interpretou, lindo como só, o soneto “Tertuliano, o Paspalhão”, de Artur Azevedo. E a cena, que fez parte de “O Dia das Crianças”, foi um sucesso retumbante.