por Rodrigo Ferret
Em tempos pandêmicos e sombrios, estamos diante de telas, assistindo peças, sendo peças. Tempo de seres humanos robotizados e máquinas humanizadas, aqui estamos, tentando salvar o mundo através da Arte. Uma proposta ousada e desafiadora. É possível?
Concebido originalmente para o teatro tradicional, presencial, o espetáculo se reinventou para as telas, ampliando a interatividade, pela facilidade das plataformas virtuais e a possibilidade de alcance nacional, um grande ponto de encontro de Brasis, diverso, global.
Uma peça sem atores, feita pelo público e para o público, movida pela plateia, conduzida por um mestre de cerimônia bastante curioso, que faz milhões de combinações e operações por segundo para entender como nos ajudar, mas que se pudesse seria humano para experimentar nossas sensações nesta noite de conexão tão mágica e ter o privilégio de acessar momentos e emoções vividos.
Em meio a esperança e desesperança, amor e ódio, avanços e retrocessos, afeto e solidão, coragem e medo, alegria e dor, a máquina nos une e nos ouve, preparando o caminho para essa viagem empática e coletiva, mesmo que algumas vezes ela tenha bastante dificuldade, como por exemplo, quando precisa processar nossos conflitos ou decifrar os códigos de poesia. Nem as máquinas são perfeitas.
O espetáculo é uma grata surpresa, participamos de uma noite amorosa, acolhedora, com desconhecidos especiais, o que mostra a necessidade de se relacionar, mesmo que a distância, bem como a necessidade de algumas vezes se jogar no abismo, como a companhia Satyros e o ator Thiago Mendonça fizeram, mergulhando neste experimento que transcende o virtual.
Sim, é possível, mesmo que não seja.
Fonte: Blog do Rodrigo Ferret, 11 de maio de 2021