Crítica por Miguel Arcanjo Prado
The Art of Facing Fear ✪✪✪✪✪
Avaliação: Ótimo
A brasileira Cia. de Teatro Os Satyros, ao lado do grupo parceiro sueco Darling Desesperados, entra definitivamente para a história do teatro mundial nesta pandemia com a estreia de seu espetáculo internacional The Art of Facing Fear.
Além de ter sido o primeiro grupo teatral a colocar em cartaz uma peça no formato live nesta quarentena, o solo Todos os Sonhos do Mundo do ator Ivam Cabral, no dia 20 de março de 2020, a companhia fundada por ele e o diretor Rodolfo García Vázquez 31 anos atrás em São Paulo também foi a primeira a estrear um grande espetáculo, com 17 pessoas no elenco, criado na pandemia e pensado exclusivamente para dialogar com este momento crítico que vivemos.
A Arte de Encarar o Medo abriu caminhos para o teatro digital não só no Brasil como no mundo, criada por artistas do Satyros que se comunicaram por telas e foi pensada esteticamente para este novo cenário da convivência humana.
A obra, em cartaz no Espaço Digital do Satyros com sessões sexta e sábado, 21h, e domingo, 16h, é o maior sucesso de público do teatro de grupo brasileiro em 2020, já tendo sido vista por mais de 12 mil pessoas em todo o mundo.
Estão no elenco pioneiro digital e já histórico de A Arte de Encarar o Medo, espetáculo indicado ao Prêmio Arcanjo de Cultura, os atores Ivam Cabral, Eduardo Chagas, Nicole Puzzi, Ulrika Malmgren, Diego Ribeiro, Dominique Brand, Fabio Penna, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Julia Bobrow, Ju Alonso, Marcelo Thomaz, Marcia Dailyn, Mariana França, Sabrina Denobile e Silvio Eduardo, além dos atores convidados César Siqueira, Nina Denobile Rodrigues e Pedro Lucas Alonso.
The Art of Facing Fear
Diante da farta audiência internacional, o Satyros resolveu dar um passo ousado. Em parceria com o Darling Desesperados, grupo teatral de Estocolmo e do qual faz parte a grande atriz sueca Ulrika Malmgreen, estrela de A Arte de Encarar o Medo, resolveu criar uma versão internacional da peça, majoritariamente falada em inglês.
Assim nasceu The Art of Facing Fear, versão internacional do texto de Cabral e Vázquez, novamente dirigida pelo último assim como na montagem brasileira.
O espetáculo multinacional estreou aplaudido por espectadores dos quatro cantos do mundo neste fim de semana, com sessões sextas e sábados, 15h (horário de Brasília), 19h (horário do Reino Unido) ou 20h (horário de Estocolmo o Johanesburgo) e ingressos vendidos digitalmente em quatro moedas ou doados a quem não possui condições de pagar.
De cara, quem assiste à montagem é tocado pela diversidade representada por seu elenco. Vázquez une artistas de três diferentes continentes: África, Europa e América do Sul. E eles vêm de países tão distintos quanto África do Sul, Senegal, Nigéria, Zimbabwe, Cabo Verde, Inglaterra, Alemanha, Suécia e Brasil.
Assim, trata-se realmente de uma nova montagem, totalmente diferente da brasileira, com novas características e nuances discursivas que estes novos corpos imprimem ao espetáculo digital.
Parcerias internacionais
E, para que a empreitada de ampla conexão internacional exista, o Satyros, com produção no Brasil de Janna Julian, contou com a parceria das produtoras executivas Ulrika Malmgren and Katta Pålsson, do Darling Desesperados (Suécia), responsáveis por levantar a obra.
Grande conglomerado de talentos, o espetáculo conta ainda com o apoio dos seguintes produtores culturais de grupos e espaços africanos e europeus, em rede global de resistência teatral: Abdoulaye Diallo, da Cie Kaddu (Senegal), Segun Adefila, do Crown Troupe of Africa (Nigeria), Katy Weir , do Oddmanout Theatre Company (Inglaterra), João Branco , do Portuguese Cultural Center of Mindelo (Cabo Verde), Bola Stephen-Atitebi , da Tell-a-Tale Productions (Nigéria), Clara Vaughan , do The Market Theatre Laboratory (África do Sul), Rudy Motseatsea, do The Kwasha! Theatre Company (África do Sul), Napo Masheane, do Village Gossip Productions (África do Sul).
Mantendo o clima distópico da obra, a trilha composta originalmente por Marcelo Nassi soa como fundamental para o desenrolar da história, se alterna com astúcia entre momentos cômicos e dramáticos para mostrar uma humanidade confinada há 5.555 dias.
Responsáveis pelo design visual da peça, funcionando como diretores de arte, Adriana Vaz e Rogério Romualdo fazem a montagem internacional conversar visualmente com a brasileira, sem contudo deixar de abrir concessões a novas propostas, o que imprime caráter único à nova encenação de Vázquez, que assina também a iluminação.
A obra também não teria seu ritmo se não fosse a agilidade digital de Léo Pegozzi, que assina a operação de som e funciona também como um diretor de palco da montagem, bem como a sofisticada arte multimídia de Henrique Mello.
Elenco sintonizado
Com toda esse entourage nos bastidores, o poderoso elenco fica amparado para criar uma atmosfera de união não só na atuação como no estabelecimento do clima propício que a obra pede.
Em fina sintonia, certamente fruto de árduos ensaios no ambiente digital conciliando diferentes fusos horários, os atores surgem familiarizados não só uns com os outros como também com as ferramentas comunicativas deste mundo distópico que apresentam aos internautas deste fatídico 2020.
Este crítico faz questão de aqui nomear todos estes 21 talentosos e aguerridos artistas, que deixam uma grande lição para a história do teatro mundial com The Art of Facing Fear: Abdoulaye Diallo – Senegal, Bola Stephen-Atitebi – Nigeria, Christina Berriman Dawson – England, Dintshitile Mashile – South Africa, Elijah Young – England, Frank Malaba – Zimbabwe, Isabel Alves Branco – Cape Verde, Janaina Alves – Brazil, João Branco – Cape Verde, Joël Leonard – South Africa, Katta Pålsson – Sweden, Lebohang Mpho Toko – South Africa, Mosie Mamaregane – South Africa, Napo Masheane – South Africa, Nina Ernst – Germany, Philisiwe Twijnstra – South Africa, Sboniso Thombeni – South Africa, Segun Adefila – Nigeria, Upile uThixo Bongco – South Africa, Ulrika Malmgren – Sweden e Wonder Ndlovu – South Africa.
Turma que entra para a história do teatro mundial na vanguarda do teatro digital. Nossos aplausos de pé, direto de nossas casas.
Fonte: Blog do Arcanjo