Uma Rápida Entrevista com Ivam Cabral: Artista ativista! – Por Marcio Tito

Uma das características mais marcantes do Ivam, de certo, está na sua maneira de habitar os variados ambientes. O palco ou a mesa de um restaurante aonde se negocia algum novo projeto, a sala de reuniões do Conselho da ADAAP ou a sala de ensaios do Espaço dos Satyros parecem, e são, os cômodos de um só ambiente: e todos os circuitos apontam para uma maneira de emprestar ao tempo presente um caminho para que as artes cênicas alcancem o máximo de sua valoração na sociedade (seja em um período progressista ou conservador). Ivam e Os Satyros nunca parecem aceitar a partida como ganha ou terminada). A tônica do projeto prediz que a luta será extensa e cheia de episódios. Aqui, nesta rápida conversa, um pouco do brilho deste ser desejante e repetidas vezes capaz de transformar sonhos em realidade.

Boa leitura!

Cabaret Stravaganza – Uma das importantes transformações estéticas da Cia neste começo de século

Marcio Tito – Lennon e McCartney, Cazuza e Frejat, Erasmo e Roberto, Ivam e Rodolfo! Esse tom de simbiose e parceria tem algo de muito especial e gostaria de falar sobre. Essa fase mais recente, mais pontuada que antes, aparece com muita força nas dramaturgias mais atuais – como se dá materialmente o processo de escritura em dupla?

Ivam Cabral – Nos Satyros, gostamos muito de processos colaborativos. Geralmente, sou eu quem cria as premissas dramatúrgicas, os personagens e o eixo central do enredo. Em seguida, o Rodolfo acrescenta ideias e as leva para sala de ensaio, onde nosso elenco improvisa e vai sugerindo novas camadas também.

Evidente que cada processo criativo tem sua especificidade, nem sempre é exatamente assim, mas o que se mantém é a característica de sermos bastante porosos, gostamos de absorver as sugestões de toda a equipe, de modo a criar uma dramaturgia viva, que faça efeito e sentido.

Marcio Tito – Além de ator e autor sempre constante, e para além das suas atividades pedagógicas, há um Ivam que nunca desaparece da cena: o articulador, o cara que agita ideias, que começa projetos e cria pontes. Como você demarcada essa postura em sua trajetória?

Inferno na Paisagem Belga – Talvez uma das primeiras incursões ao performativo total. Um trabalho sólido e cheio de experiências tecnológicas.
Ivam Cabral – Com uma ou outra exceção, é praticamente impossível, neste século XXI, pensarmos em um artista hermético, isolado de tudo.

Inferno na Paisagem Belga – Talvez uma das primeiras incursões ao performativo total. Um trabalho sólido e cheio de experiências tecnológicas.

Ivam Cabral – Com uma ou outra exceção, é praticamente impossível, neste século XXI, pensarmos em um artista hermético, isolado de tudo.

Temos que nos desdobrar entre vários trabalhos e campos de atuação, estarmos conectados ao pensamento histórico, antropológico, estético, e, na mesma medida, à atuação social e de gestão pública.

Seja como artista e ativista em prol de causas humanitárias e projetos sociais, nos Satyros, ou como diretor executivo da SP Escola de Teatro, gerindo um projeto pedagógico que tem centenas de conexões no Brasil e no exterior, preciso estar conectado a novas ideias, propostas, projetos, ou seja, tudo demanda conexão e engajamento, é impossível alcançar grandes metas sozinho.

Quem é sábio se conecta com pessoas boas, interessantes e competentes, de modo que todos juntos possam se ajudar em prol de um bem maior, e, por que não, para chegarmos aos nossos objetivos e sonhos individuais também.

Marcio Tito – As oficinas de interpretação dos Satyros são um marco na produção criativa e social do grupo, e por terem essa duração na história, é claro, tornaram-se também um ponto de diálogo da cia com o mundo. Como os e as artistas têm surgido atualmente? Como você analisa as transformações filosóficas dos e das artistas que atualmente procuram as oficinas da companhia?

Cabaré Fucô – retorno ao lúdico e resistência crítica

Ivam Cabral – Tenho muito orgulho de nossas oficinas, foram com elas que começamos a remodelar a cara da praça Roosevelt e do centro de São Paulo, elas são o germe que derivou na SP Escola de Teatro. Hoje vemos todo tipo de pessoas procurando os cursos dos Satyros, desde artistas já com alguma formação que querem aumentar seus conhecimentos ou fazer networking, até novatos que ainda estão começando, e independentemente da idade, já que temos desde o projeto Teens, com adolescentes, até o Silenos, com idosos.

Marcio Tito – O repertório da companhia é muito mais do que extenso, mas qual montagem você gostaria de ver retomada pela cia? Qual texto você pensa que ainda teria o que contradizer na sociedade atual?

Ivam Cabral – Mesmo quando trabalhamos com analogias ou metáforas, nossas montagens sempre têm um caráter de político, de embate, de questionar o status quo. É difícil citar uma, porque, modéstia à parte, quase todas têm essas características. Importante também mencionar que muitos de nossos espetáculos têm vida longa, é raríssimo encenarmos menos do que cem vezes uma peça. E muitas, como “Filosofia na Alcova” e “Os 120 Dias de Sodoma”, por exemplo, já tem décadas de vida, e perfizeram mais de mil apresentações desde suas estreias.

Evidente que os elencos mudam, às vezes fazemos pequenas reformulações, mas o essencial é mantido.

Marcio Tito – Como você avalia o saldo das experiências digitais que vivemos no mais agudo do quando agora dos isolamentos decorrentes ao processo pandêmico?

Ator, roteirista, compositor, autor, diretor e coordenador pedagógico: Ivam Cabral!

Ivam Cabral – Altamente positivo. Acredito que o verdadeiro artista deve ficar feliz quando novos modelos ou formas de produção são criados, isso é a constituição inerente da arte. Alguns fotógrafos podem não ter gostado no princípio, mas há como negar que a criação do cinema – estou falando da tecnologia e da arte – foi algo bom no campo da estética, do entretenimento, do campo de atuação ao artista?

O teatro digital é a mesma coisa, além de sua potência democrática, são novos recursos cênicos e conceituais a serem explorados, por que brigar contra isso? Quem não gosta, basta não fazer ou não assistir. Mas por que deslegitimar? Isso foi cruel, especialmente nos períodos de mais críticos da pandemia, já que era o nosso único formato possível.

Fonte: Deus Ateu

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