Joaquim, um dos meus amigos mais queridos, fez aniversário ontem. Um dia de festa, embora confinados todos nós, cada um em seu canto. Passei um dia maluco, cheio de reuniões e resolvendo um mundo de problemas. Só à noite consegui, enfim, falar com ele, para parabenizá-lo, enquanto me contava como tinha passado seu dia.
Nos últimos tempos, sua mãe tem vivido numa casa de repouso para idosos. Uma linda casa, muito perto do apartamento onde vive o meu amigo. Uma casa bastante familiar, sem muitos hóspedes, onde dona Nadyr, 92 anos, reside em um quarto confortável. Estive lá com o Quim mais de uma vez visitando nossa querida amiga.
Nestes tempos de pandemia e isolamento, o Joaquim continua indo visitar sua mãe. Não entra mais na casa e fica conversando com ela através do portão. Difícil é explicar esse novo mundo à dona Nadyr que, apesar de lúcida, não entende muito bem o que está se passando com o mundo.
Ontem Quim foi visitar sua mãe. Na verdade, ela telefonou a ele para que fosse visitá-la. Dona Nadyr havia preparado um festa surpresa pra ele, realizada através de muros que separava meu amigo dos moradores de sua nova residência.
À noite, quando, enfim, falei com o Joaquim, ele me contou essa história. Disse que havia fotografado e filmado tudo. Pedi que ele me enviasse esse material. Quando recebi, minutos depois, vi e assisti a tudo em lágrimas.
Havia um vídeo de uma das amigas da dona Nadyr cantando “Parabéns a Você” para o Joaquim. Um vídeo singelo, onde a cantora é a nonagenária dona Gigi, que, em seus tempos áureos, foi cantora lírica.
Fiquei pensando na efemeridade da vida. Mas na poesia dela, também. Que sagrado é esse sopro que nos impulsiona e nos alimenta a cada amanhecer. Pensei também na grandeza desse meu amigo querido que, em nenhum momento – nenhum mesmo! – , abandonou qualquer possibilidade de estar perto de dona Nadyr, nos piores e nos terríveis momentos de suas vidas.
Me lembrei. Dois anos atrás, talvez, quando o Joaquim foi condecorado comendador pela Câmara Brasileira de Cultura, na Câmara dos Deputados, saí com os dois. Dona Nadyr, toda faceira e feliz pela conquista do filho, me confidenciou, enquanto ela e eu esperávamos o Quim, que havia ido estacionar o carro:
— Ele não pode saber disso, tá? Não conte a ele porque senão fica convencido. As pessoas convencidas não precisam de elogios. Mas o César – é assim que dona Nadyr chama o Joaquim César – é o meu filho preferido, o mais atencioso, sempre cuidou de mim. Seu pai estaria todo orgulhoso dele hoje.
E, por aqui, um mundo de sonhos e lembranças insiste em me fazer continuar acreditando na vida. E também nesse processo maluco que é presenciar o tempo, sempre impiedoso, mas certeiro.
Parabéns, Joaquim. Aprendo contigo tantas coisas! Obrigado pela importante – e fundamental – presença na minha vida.