UM TEATRO VELOZ

O Teatro Veloz é o método de preparação de atores desenvolvido pelos Satyros. Ele só pode ser compreendido se contextualizado dentro do movimento de teatro de grupo brasileiro, surgido a partir dos anos 1990.

O Teatro Veloz busca a desalienação do ator, o ator como fundador de sua própria existência, e, portanto, de sua própria arte.

Desalienar-se significa, para o Teatro Veloz, fazer o indivíduo entrar em contato com seu eu profundo, seus fantasmas, seus medos, sua posição na sociedade e as potencialidades de seu ser, que se encontram não manifestadas.

Nesse sentido, o ator desvela o que havia sido oprimido pelos mecanismos sociais: sua potência criativa, sua força como agente social, sua independência artística, seu poder estético de transformação de consciências. O ator, confrontado com seus dilemas pessoais, econômicos, morais, estéticos e sociais, vai inevitavelmente impregnar sua obra e, consequentemente o espectador, com suas questões. Questões essas que não deixam de ser de toda uma sociedade. Ao questionar-se a si mesmo, o ator provoca no espectador a reflexão e a crítica. Para o Teatro Veloz, a relação dialética do ator com o espectador provoca um enriquecimento estético fundamental.

Assim, o Teatro Veloz evita a utilização do termo “teatro colaborativo”, buscando usar termos que definam melhor a relação dos atores com o processo teatral, tais como “teatro crítico” ou, ainda, “teatro desalienante”.

Diante desses objetivos, a reflexão crítica torna-se fundamental no processo de reconciliação do ator consigo próprio. As técnicas e procedimentos desenvolvidos pelo Teatro Veloz, partindo de mestres como Meyerhold, Artaud, Nietzsche e Reich, são os meios utilizados para dar ao ator o suporte para o contato com seu eu profundo.

Técnicas de voz e de corpo, para o Teatro Veloz, são os meios que possibilitam ao ator-criador não apenas treinar e exercitar suas habilidades de voz e corpo, mas também atingir novos horizontes de expressão e de criatividade. O ator-criador treina sua criatividade através de exercícios que o façam entrar em contato com suas dimensões adormecidas.

Numa sociedade que condiciona seus cidadãos a determinados comportamentos e padrões, o Teatro Veloz pretende dar as condições para que o ator vá além destes e busque expressar verdades e belezas submersas, que essa mesma sociedade repressora, ironicamente, adoraria descortinar. Nesse descortinamento reside o elemento de maior vitalidade para um teatro contemporâneo.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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