Existem todos os tipos de tempo. O que escorre apressado pelos compromissos e o que se arrasta como uma tarde de domingo. O tempo da chuva, que molha a alma. O tempo da saudade, que insiste em não passar. E há também o tempo que a gente inventa, aquele que cabe só dentro da casa da gente, com suas manias, silêncios e pequenas companhias.
Tenho aprendido a amar esse tempo inventado. Acordo antes do sol, quase sempre entre cinco e meia e cinco e quarenta e cinco. É quando o mundo ainda cochila e o tempo parece suspenso. Nesse intervalo entre a noite e o dia, escrevo, leio, penso. Faço parte de um rito que se repete, mas nunca igual.
E eles estão comigo. Meus bichos. Duas gatas, uma cachorra e um cachorro. Meus cúmplices no amanhecer. Não há barulho, não há pressa. Só o som dos passos que deslizam pelo chão e das respirações que, de tão próximas, já se confundem com as minhas. Eles sabem que esse é o nosso tempo. Ficam por perto, às vezes pedindo carinho, às vezes apenas me fazendo companhia.
Há algo profundamente poético nessa convivência. A intimidade nasce do hábito, mas floresce no silêncio. Já não sei se sou eu quem dita o ritmo das manhãs ou se são eles que me ensinam o compasso certo da vida. Porque os bichos têm um tempo que é só deles. O tempo do agora. E talvez seja isso o que me encanta. Esse aprendizado diário de estar presente.
Aqui dentro, o tempo de fora não entra. É como se o mundo tivesse outro relógio, outro idioma. A vida se recolhe, o tempo se dobra, e tudo o que existe cabe no pequeno gesto de um focinho encostando no meu braço.
Por anos tem sido assim. Um segredo leve, que agora compartilho sem medo. Porque revelar também é uma forma de agradecer. Afinal, a vida é feita disso. De tempos que se tocam, de presenças que nos ensinam a permanecer. E, nesse entrelaçar de horas e afetos, o tempo dos bichos é o que mais me ensina a ser gente.
