TRÊS ANOS HOJE | Adeus

Hoje você apareceu aqui numa caixinha. Não teve jeito, entendi que o final havia se aproximado. Com a pequena urna entre as mãos, eu só pensei que estava a apenas um passo de me despedir de você pra sempre. O epílogo. Que poderia durar pouco ou muito tempo, só dependerá de mim, agora. Ninguém mais poderá fazer nada por mim ou por você. Acabará quando, enfim, eu abrir a pequena caixinha, de preferência num dia em que o vento surja forte, mas com delicadeza. Você voará pelos ares e se encontrará com o infinito. Será em Parelheiros esse último momento, já decidi.

Enquanto isso, vou pensando. Quando eu chegar em casa, todas às vezes, até o final da minha vida, não mais te verei naquele bailado que encantava nossas noites, todas as noites. Não mais te ouvirei tremendo de alegria, se aconchegando nos meus ombros. Nunca mais nos comunicaremos na língua do pri. Quando eu chegar em casa, até o último dia da minha vida, seus olhos nunca mais sorrirão pra mim.

Mas eu prometo. E eu sou um bom pagador de promessas. Já paguei promessa em Aparecida do Norte e na Notre-Dame, em Paris. Já fui a Fátima, em Portugal, só pra pagar promessa. Também já fiz novenas, onde rezei terços e terços, muitas vezes. Até promessas dos outros eu já paguei. Então eu prometo. Terei você no meu coração pra sempre. Será mais ou menos assim. Quando eu chegar em casa, toda vez, vou colocar a mão no lado esquerdo do meu peito só para que você saiba que estarei pensando em você. E farei isso por toda a minha vida. Prometo. Eu juro.

Assim, os três anos se transformarão em eternidade. E você não sentirá desamor, nem medo, muito menos abandono. Uma conexão. Para que você possa se fortalecer e sua luz volte a brilhar por aí. Talvez em Andrômeda ou em Virgo.

É possível, muito possível até, que nunca mais nos encontremos. Não tenho a sua pureza, nem a sua capacidade de amar. Também não possuo a sua valentia, nem a sua coragem. Sim, o que você fez, é feito de destemidos. Eu sou apenas um ser imperfeito que morre de medo de altura. Não saberia voar e por isso não chegaria nem em Órion.

Por fim, obrigado por ter me mostrado o amor incondicional. E por ter cuidado de mim. Sim, eu sei que você assumiu o meu lugar.

ED.: faltou uma coisa importante: me perdoe, ❤️

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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