TEATRO & TECNOLOGIA: EU SOU UM DEPENDENTE TECNOLÓGICO

Eu sou um dependente tecnológico
A noite, quando me deito,
Eu conto carneirinhos mecânicos pra dormir
(Trecho de “Cabaret Stravaganza”, de Maria Shu)

Ivam Cabral em “Cabaret Stravaganza” (2011), foto: Andre Stefano

Qualquer pessoa, mesmo que não fazendo parte do meio artístico, sabe a dificuldade e complexidade de se criar, produzir, decorar ou dirigir um texto para uma peça teatral. São centenas de páginas de textos utilizados.

Além do texto propriamente dito, são produzidos muitos outros materiais como base de estudos, de pesquisa, de reflexões, comparações e etc. Num elenco de 13 atores, por exemplo (o número de intérpretes de “Cabaret Stravaganza), imaginem a quantidade de cópias que seriam necessárias produzir para que este grupo pudesse estar afinado em uma pesquisa?

Pois bem, nesta nossa mais recente produção, “Cabaret Stravaganza”, por conta de acasos e mais acasos e, como sempre, pela querida tecnologia que nos ajuda, passamos a discutir e compartilhar os textos online e, com as novas possibilidades – como os tablets -, lê-los e editá-los sem precisar imprimir aquele monte de páginas. Temos, ainda, a questão da facilidade de acesso a qualquer outro material enquanto a leitura do texto é feita.

Por exemplo: enquanto lê, o artista tem à sua disposição referências que podem facilmente ser pesquisadas naquele exato momento, sem ter que deixar para mais tarde. Prático, útil, agradável e politicamente correto, já que elimina a necessidade de imprimir centenas de folhas. A natureza agradece.

Há vários outros exemplos da tecnologia andando de mãos dadas com as artes do palco. Atualmente, o grupo Oficina exibe um espetáculo em que os atores utilizam o  IPad e o Twitter em cena. Em “Macumba Antropófaga”, além da divulgação em streaming (fluxo contínuo ao vivo de imagens por internet), o público é convocado a tuitar com seus celulares para o perfil da presidente Dilma Rousseff (@dilmabr), em prol da sensibilização e erradicação da miséria do Bixiga, local onde o grupo tem sede.

Outro exemplo, ocorre em nossa peça, “Hipóteses para o Amor e a Verdade”, de 2009, onde o público é convidado a deixar os celulares ligados e, durante o espetáculo, os atores ligam para o pessoal da plateia e também para pessoas, aleatoriamente, que estão fora da cena. Os Satyros também jogam nessa peça com projeções e webcams.

Ainda em 2008, em “Liz”, em uma cena em que interpretava Marlowe, escrevendo, um dia substitui as folhas de papel e a pena dos adereços e entrei com o meu iPhone, tuitando em tempo real. Nestas ocasiões, lembro-me que falei, além de seguidores de São Paulo, com pessoas de Goiás, do nordeste e, inclusive, com o Raul Barreto, também diretamente da cena de “O Papa e a Bruxa”, nos Parlapatões.

Agora, em “Cabaret Stravaganza”, nosso foco são as questões ciborgues. Estamos de olho no que podemos aprender com a tecnologia. Stanislawski, por exemplo, no início do século XX, estava conectado com as pesquisas de ponta de sua época. Apesar de não termos notícias de que o mestre russo teria se encontrado com Freud e sua obra, é claro reconhecer em seu trabalho estudos concebidos a partir de elementos da psicanálise. Afinal, o artista que acredito deve estar conectado com o seu tempo, com as provocações de sua contemporaneidade.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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