SPLASH | Maria Casadevall: ‘Segui minha intuição para ter autonomia artística’

Uma das grandes revelações da teledramaturgia da década passada, a atriz Maria Casadevall se tornou presença bissexta na TV apesar da grande popularidade que conquistou com o público e a crítica quando estreou na novela “Amor à Vida” (2013).

Afastada do trabalho há alguns anos, ele voltou a atuar no espetáculo “Um Dia Muito Especial”, que está em cartaz no Teatro Sérgio Cardoso. Na peça, ela interpreta Antonieta, uma mãe de família que vive sob o regime fascista da Itália e que se apaixona pelo vizinho, um pianista homossexual vivido por Reynaldo Gianecchini.

Maria Casadevall conversou com a coluna sobre o novo desafio profissional e também falou de sua vida pessoal. Os melhores trechos desse papo estão abaixo.

 

Maria, tua personagem na peça é uma mulher que vive conforme as expectativas da sociedade. Quando caiu sua ficha que você não precisava seguir aquilo que a sociedade espera de uma mulher?

Quando você é adolescente, você quer pertencer de qualquer maneira. Que é momento que você percebe que não é preciso mais se se violentar, se espremer, para encaixar, para pertencer? Eu acho que são vários momentos na vida.

Percebi isso depois da minha pré-adolescência, no contexto escolar. Poxa, acho que eu tô me machucando para caber, eu não preciso disso. Depois, mais tarde, enquanto mulher quando eu conheci o feminismo e compreendi esse lugar da autonomia da mulher, da mulher reconhecendo um valor em si mesma, não precisando de um homem para validar o seu próprio valor.

E depois também me assumindo como uma mulher lésbica, entendendo que eu também não preciso servir a esse modelo da heterossexualidade, da heteronormatividade.

 

Você estreou em “Amor à Vida” e foi um sucesso. Seria muito fácil, muito cômodo você assinar um contrato longo com a Globo e estrelar uma novela atrás da outra. Por que você optou por não seguir esse caminho?

Quando eu fiz essa novela e foi um sucesso, recebi essa proposta para assinar um contrato longo e permanecer ali na emissora, no Rio de Janeiro. Era muito, muito incomum fazer outra escolha que não fosse essa.

Mas também, ao mesmo tempo, foi muito natural para mim, porque eu já tinha um vínculo com a companhia de teatro que eu trabalhava aqui em São Paulo, Os Satyros. Eu queria voltar para São Paulo trazendo a bagagem da experiência que eu tinha acumulado fazendo essa novela. Eu queria muito fazer cinema também, entender outras experiências a partir das portas que esse trabalho tinha me aberto. Então isso era muito claro para mim. Ao mesmo tempo que eu gostaria de retornar também em algum momento para a Globo.

Foi muito difícil para minha jovem artista confiar na minha intuição, mas tinha uma intuição que me dizia: “Segue um caminho que te dê autonomia artística e liberdade artística de.

 

Você teve escolhas, mas a sua personagem na peça, Antonieta, não teve tantas escolhas assim. Ela vive basicamente uma maternidade compulsória. Por que a gente ainda discute tanto essa questão da mulher poder ter liberdade de escolha?

Angela Davis fala que um direito adquirido com muita luta, ele não é uma verdade que se estabelece. Então, é preciso que ele seja a todo momento reivindicado. Você começou a pergunta trazendo uma palavra que é imprescindível pra gente entender os privilégios sociais, que é escolha, né? Ter o direito a escolha é um privilégio.

No contexto de uma em Itália, fascista, essa mulher numa de um contexto social também absolutamente invisibilizada nessa relação, é submetida a um poder patriarcal, a um poder machista.

Ela não tem nem o direito a escolha sobre uma decisão política, né? Ela se reconhece como uma pessoa fascista, não porque ela fez uma escolha de ser fascista, mas porque o marido impôs isso a ela. Ela vai descobrir no Gabriele (personagem de Gianecchini) a possibilidade do direito à escolha, de poder escolher ser alguma outra coisa que você não imaginava que seria possível.

 

Tua personagem em “Um Dia Muito Especial”, Antonieta, tem seis filhos. Como é a questão da maternidade para você?

Tem uma coisa legal para contar: Antonieta, o nome da minha bisavó, que era mãe de quatro filhos, com condições bastante limitadas financeiramente e que precisava dar conta de tudo num contexto de invisibilização. Eu tenho um espírito muito maternal, apesar de não ser mãe biológica ainda. Mas eu tenho uma relação muito maternal com pessoas que eu amo, com seres que eu convivo.

Então, exercer no palco esse lugar que me parece tão familiar vai me abrindo os olhos para a não romantização da maternidade.

 

“Um Dia Muito Especial” fala de um encontro que transforma a vida das pessoas envolvidas. Tem algum encontro que te modificou?

Maria Casadevall e Airam Mares
Imagem: Leo Franco / AgNews

Muitos, mas eu posso trazer o encontro com Airam Mares, que é minhe companheire e uma pessoa que me transformou profundamente desde do nosso primeiro encontro. Airam é um ser maravilhoso, um artista muito maravilhoso, cheio de dons e um deles é o tambor.

Então, o toque do tambor e o quanto esse encontro com Airam e com sua arte me transformaram profundamente. O quanto também é bonito quando eu trago sobre Airam, mas também a sua arte. Elu manifestar a própria arte, como isso me atravessou vendo alguém toda sua verdade manifestando a sua arte, manifestando o seu fazer. Isso me deu muita vontade de procurar mais a fundo dentro de mim. O que mais eu queria?

É claro que eu tinha eu estava num lugar de muito de conquistas muito importantes. Mas tinha mais para ser visto, ser olhado. E isso a Iran, com sua arte, com seu talento, me provocou e me trouxe esse questionamento.

 

Fonte: SPLASH UOL

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