Evento já tradicional no calendário da SP Escola de Teatro, a “SP Transvisão – Semana da Visibilidade de Travestis, Mulheres Transexuais e Homens Trans” chega à sua 11.ª edição entre os dias 23 e 29 de janeiro, na sede da Praça Roosevelt, em São Paulo. Com entrada gratuita, a programação especial será híbrida, com atividades presenciais e online.
Entre as atrações da semana – em que será celebrado ainda o Dia da Visibilidade Trans (no dia 29) –, estão shows, performances artísticas, documentário, mesas de debate, ação solidária e, ao final do evento, e entrega do Prêmio Claudia Wonder, direcionado a personalidades trans que se destacam em diferentes áreas.
Destaque para os espetáculos “Wonder” (dia 23) e “Le Girls” (dia 25), a exibição do filme e performance “FRUTAS!” (dia 24), a performance “Burlesque/Mágica” (dia 26), Trans Sarau (dia 27), o espetáculo/performance “Tríptico” (dia 28) e o show de variedades com artistas transexuais, moradoras da Casa Florescer (dia 29).
A novidade deste ano é o lançamento do podcast “Transvisão”, que entrará no ar a partir do dia 23, com dois episódios semanais, às segundas e quintas-feiras. Serão abordados 10 temas ligados ao universo trans. “Entre esses temas, está a velhice trans. A gente fala tanto da classe hétera, normativa, homem e mulher cis na velhice, por que não a gente? Onde estão as travestis velhas, as travestis mais antigas, com 70, 90 anos? É preciso desse acolhimento, desse cuidado”, afirma a bailarina e atriz transexual Márcia Dailyn, coordenadora do evento e colaboradora da SP Escola de Teatro, em entrevista ao Hypeness.
Outro tema na ordem do dia é saúde mental. “Precisamos, sim, falar da nossa saúde mental. A mente pode ser abalada dentro do serviço, de casa, dentro do estudo, ao colocarmos nossos corpos no sistema. São temas fortíssimos que a gente está trazendo nesse podcast”, ela antecipa.
Durante o evento, esses e outros temas vão nortear também as mesas de debates, em que serão tratados ainda: Não-binaridade, ageneridade e assexualidade (dia 24), Intercâmbio Transvisão – Expectativas de novas políticas trans em rede nacional (25), Intersexualidade e gênero neutro (dia 26), Interseccionalidades: Raça e acessibilidade (dia 27).
Segundo Márcia, são assuntos que precisam sempre estar no centro das discussões – e ela agrega a essa lista, por exemplo, crianças trans, tema de uma mesa que teve grande procura na edição passada. “Tem pautas que sempre vão ser faladas, questionadas, dialogadas e outras que vamos trazer agora, como a velhice trans.”
Inspiração e referência
Envolvida com a “SP Transvisão” desde a primeira edição, Márcia Dailyn sintetiza através da própria trajetória o espírito do evento, que tem papel importante em questões como diversidade e, sobretudo, representatividade. E a história de Márcia acaba servindo de reverência e inspiração para outros corpos trans que querem investir na carreira artística.
Aos 44 anos, ela é primeira bailarina trans a se formar no Teatro Municipal de São Paulo, com passagens no Teatro do Rio, no Bolshoi de Joinville e na companhia de dança da lendária bailarina e coreógrafa cubana Alicia Alonso. “Completei 25 anos de carreira. A dança para mim é um combustível, me fascina, me traz recordações da minha mãe. A influência da dança vem dela. Ela era professora de aeróbica e ginástica nos anos 70. Eu saía da escola e ia para escolinha onde ela dava aula, e ficava ali no canto. Aquela repetição, aquela música, aquele espaço, aquela disciplina, é uma coisa que eu acho linda.”
Márcia começou a dançar com cerca de nove anos, e não parou mais. “Nunca medi o que ia fazer, nunca medi o que iria trazer isso para mim. Sempre fiz de coração o que eu sempre quis fazer.”
Diretor executivo da SP Escola de Teatro, Ivam Cabral conta ao Hypeness que, quando convidou Márcia para coordenar a SP Transvisão na primeira edição, a instituição já mantinha contato artístico com ela havia tempos, mas a artista passou a integrar o quadro de funcionários, de fato, mais tarde. “Sua competência em mobilizar as pessoas e, sobretudo, sua militância histórica com essas questões fazem com que o evento tenha cada vez mais relevância e impacto”, elogia Cabral.
O primeiro evento aconteceu em 2013. No entanto, para Cabral, a iniciativa já nasceu com a criação da própria SP Escola de Teatro pela Associação dos Artistas Amigos da Praça (ADAAP). “Isso porque, desde a nossa fundação, somos muito engajados na batalha por justiça social e representatividade cultural e política”, afirma ele.
“Portanto, desde o nosso início, em 2010, muito antes da legítima onda de discussões sobre os direitos das pessoas trans e da mídia começar a reportar com mais força as violências que essa população sofre, especialmente no Brasil – onde as estatísticas pavorosas falam por si só –, já tínhamos no projeto político pedagógico da ADAAP a determinação de empregar o máximo de transexuais e travestis em nossos programas artísticos e educacionais. Assim, a SP Escola de Teatro já abre as portas com sete profissionais transexuais e travestis em seu quadro de funcionários”, completa o diretor executivo.
Ao longo dos anos, a “SP Transvisão” se tornou também referência como modelo de evento do gênero. “É esse mapeamento que faz a ‘SP Transvisão’ ficar tão diversa para a comunidade, e criar exemplo de projeto”, observa Márcia. “É o nosso modelo de idealização, de colocar nossos corpos e corpas na sociedade; o nosso formato, de ter um começo, um meio e um fim, de abranger desde criancinha à ancestralidade.”
“SP Transvisão” 2023 – 11ª edição
De 23 a 29 de janeiro de 2023
Local: SP Escola de Teatro / salas R1 E R4 e Roosevelt – Praça Roosevelt, 210, Consolação, em São Paulo
Entrada gratuita com a retirada de ingressos na recepção da Sede Roosevelt
Atividades presenciais terão transmissão simultânea no YouTube da SP Escola de Teatro – youtube.com/spescoladeteatro
Fonte: Hypeness