por Miguel Arcanjo Prado
Ricardo Cabral, do Rio de Janeiro, é o primeiro ator do teatro brasileiro a estrear uma peça original, O Filho do Presidente, no formato digital de live online nesta quarentena por conta do novo coronavírus, sob direção de Natasha Corbelino.
Sua iniciativa se soma à do ator Ivam Cabral, da Cia. de Teatro Os Satyros, de São Paulo, que manteve em cartaz online desde 21 de março a peça Todos os Sonhos do Mundo, com texto de Ivam e direção conjunta com Rodolfo García Vázquez. A obra do Satyros já existia no teatro tradicional e teve sua temporada transferida para o mundo online, por meio de live no Instagram, onde foi vista por quase 4 mil pessoas em um mês.
Por coincidência, os dois atores pioneiros no Brasil ao abraçarem sem preconceito o novo formato digital para seguir fazendo teatro independente em tempo real junto ao público compartilham o mesmo sobrenome, apesar de não serem parentes.
Ao contrário de Ivam, Ricardo já estreou sua peça em formato streaming, no último dia 7 de abril, no aplicativo Zoom, de videochamadas, onde ficou em cartaz até o dia 12 do mesmo mês. Após uma primeira temporada bem sucedida no mundo online, a obra volta com nova temporada a partir desta sexta (24), toda sexta, às 21h, por tempo indeterminado.
Ricardo assina atuação e texto em O Filho do Presidente, que conta com direção Natasha Corbelino. Para o ator, fazer teatro online não foi algo tão diferente, já que seu grupo, o Teatro Caminho, pesquisa há sete anos teatro para espaços não convencionais. “É teatro, cinema, história, performance, live, tudo ao mesmo tempo”, define o ator, que veste figurino de Tiago Ribeiro, que ganha cada vez mais destaque no mercado cênico carioca.
A ideia inicial era que O Filho do Presidente estreasse em casas e apartamentos. Mas, com o distanciamento físico imposto pela pandemia, “a câmera do celular virou dispositivo de cena”, com o trabalho fazendo uma investigação “do que podem corpo e tela juntos”, como define a diretora, que lembra que não trata-se de teatro filmado.
Ricardo conta que o público digital da peça, que contribui de forma espontânea e consciente, vem de diversas partes do mundo. “Tivemos espectadores do Rio, de São Paulo, Macapá, Fortaleza, Porto Alegre, Buenos Aires, San Diego, Paris, Sidney. É um alcance até então inimaginável para o teatro”, avalia sobre a peça com realização do Teatro Caminho em parceria com Corbelino Cultural.
Teatro vai sobreviver ao coronavírus
Para Ricardo Cabral, o teatro vai sobreviver ao coronavírus. “Se a gente olhar historicamente o teatro sobreviveu a guerras, pestes… O teatro sempre se reinventou e se fez necessário de alguma forma. É muito difícil fazer previsão para o futuro, mas tenho certeza que o teatro presencial vai sobreviver, até porque vamos sair disso tudo com uma vontade louca de se encontrar”, diz.
“O teatro vai resistir e isso que estamos investigando, que pode ser um teatro online, uma cena live streaming, talvez acabe desaguando em um outro gênero, fluído, que misture teatro, cinema, live, cena, que brinque com essas fronteiras ao provocá-las”, fala o ator.
“A importância do movimento que estamos fazendo é abrir espaço para apontar uma caminho, abrindo a frestinha pequenininha de uma janela”, afirma. “O que amo nisso tudo é que o trabalho pode ser um convite aos demais artistas para que experimentes novos formatos. Estamos em uma das mais graves crises da humanidade, e crise sempre significa uma chance de reinvenção”, conclui o artista.
Fonte: ”Blog do Miguel, 22 de abril de 2020