OS SATYROS
“A praça Roosevelt ficou burguesa”
Um dos fundadores do grupo de teatro Os Satyros, Ivam Cabral, 49, diz ter ficado triste antes de decidir sair com sua trupe da praça Roosevelt. Sediado no centro há 13 anos, a companhia já procura nova sede, disse Cabral. Leia trechos da entrevista à coluna.
Folha – Os Satyros vão sair da praça Roosevelt?
Ivam Cabral – Sim. Pagamos todo mês quase R$ 12 mil de aluguel nos dois espaços que temos na praça. Cansei de renegociar, do aumento dos preços. Um dos contratos vence em maio. O outro vai até agosto. Então a saída vai ser gradual. É uma postura política.
A revitalização mudou a praça?
Virou um lugar plastificado. Outro dia, vi que surgiu um espaço com uma panificadora gourmet aqui. A praça Roosevelt ficou burguesa. A papelaria que sempre existiu na praça foi expulsa. Não é mais a nossa.
Onde serão os novos teatros?
Já estamos procurando novos lugares. Talvez vá ser na Cracolândia, onde o pessoal do [grupo de teatro] Pessoal do Faroeste está fazendo um ótimo trabalho. E o bairro é lindo. É só olhar em todo e qualquer lugar do mundo. O artista é o lixeiro da sociedade. Lida com o que há de ruim, depois é expulso. Fiquei triste de verdade. Mas cansamos de bancar os heróis.
Tem disposição para ir para um outro bairro degradado?
Sim. Quando nos mudamos para cá, já sabíamos que isso ia acontecer. O que é bom também. A arte pode ajudar a outros lugares na cidade, com certeza.
Fonte: Mônica Bergamo, Folha de S. Paulo, 26 de novembro de 2012
Que pena. Fico realmente triste com essa notícia. Acho que o Satyros e a praça tem tudo a ver com São Paulo e a força de uma cultura marginal que sensibiliza e renova, se reinventa e reconstrói. Tenho profundo respeito pelo Ivan Cabral e pelo Rodolfo, meu mestre no curso de direção da escola que também fundaram, logo ali, ao lado e se mantém como bunkers de resistência de uma cidade incendiada. Ao Satyros, vida longa e meu carinho maior ao Ivan a ao querido Rodolfo. Merda!
Nossa vida é feita de ciclos. Novos tempos, novos ares, novas possibilidades…
Por onde quer que vocês andem, pra onde quer que vocês tenham que ir, estarei sempre indo prestigiá-los!
Merda Sempre!!!
Reclamar que a Praça Roosevelt ficou burguesa por conta de uma panificadora gourmet, sendo que vocês mesmos inauguraram um restaurante ao lado dos espaços com preços exorbitantes, e uma proposta, de certa forma, também gourmet, soa um pouco estranho.
Mais ainda, é querer se mudar para uma região que deve receber quase 400 milhões de reais para ser revitalizada e dizer que vai sair da praça porque o lugar se tornou “palstificado”.
Com todo respeito que tenho ao trabalho de vocês, essa entrevista ou foi mal editada, ou suas declarações/justificativas soaram equivocadas demais.
Depois de ler este texto do diretor d’O Satyros eu realmente deixei de lamentar a saída do grupo da Praça Roosevelt e me limito adesejar boa sorte. Não voltem mais.
Eu não sabia que dormir era coisa de burguês. Que só burguês tinha direito a desncasar, a ter silêncio…
Aliás, acho que para Vázquez, a palavra “direito” não se encaixaria aqui, ou talvez “direito” seja, para ele, também uma noção burguesa.
Mas de uma coisa tenho certeza: Vázquez e sua trupe se acham os salvadores da praça. Só eles. E como pagamento, nós, moradores, devemos nos submeter à tudo que sua trupe decidir fazer, seja desmontar palco as 2 da madrugada, seja aguentar dias a fio com barulho praticmente 24h por dia porque suas atividades são mais importantes que a dos milhares de moradores, assim como nosso sossego.
Pior de tudo, o Satyros – tirando um Satyrianas aqui e outr ali – nunca foi motivo de reclamações ou de transtorno. Nosso problema maior é com o Parlapatões…. Pelo visto tomaram as dores dos outros.
O histórico da praça, caro Vazquez, não é o que você afirma estar preservando, não é a vida que você afirma ter dado. Reconheço, e creio que seria impossível fazer o contrário, o papel do Satyros na revitalização mais recente da praça, mas ela já teve muitas caras. Foi velódromo, depois o primeiro estádio de futebol de São Paulo, onde se jogaram os primeiros campeonatos paulistas – e de todo o Brasil -, foi estacionamento, espaço para feira e depois, na Ditadura, foi praça de concreto, horrível, até se deteriorar, como todo o centro depois de passar pelas mãos de Maluf e correlatos.
Acabou degradada, e foi recuperada não apenas pelo Satyros – que teve sim papel nisso tudo – mas também pelos outros teatros, bares, barbearia, pelo moradores antigos e que foram chegando, enfim, pela comunidade que vive na e da Praça Roosevelt.
Aliás, os skatistas chegaram aqui MUITO antes de vocês sonharem em abrir seu(s) espaço(s).
Acho interessante alguém que critica os “burgueses” e se diz – pelo que entendi – de esquerda, querer posar como grande salvador, individual, da região. E alguém que se coloca ACIMA da comunidade, como se seu negócio – que coisa burguesa, não? – estivesse acima do bem e do mal, acima de críticas e não precisasse ouvir ninguém.
Infelizmente, meu caro Vázquez, são milhares os moradores da Praça, e mesmo muitos comerciantes fazem questão de respeitar esta imensa comunidade, não passando a madrugada inteira abertos, como faz o insuportável Parlapatões.
Respeito e comunidade são apavras que o “esquerdista” parece não compreender. Vale o egoísmo e o egocentrismo do nosso salvador.
Sabias, meu amigo, que há moradores que vivem na praça há mais de 50 anos? Muitos vivem aqui desde antes de sua salvação? Sim, reconhecemos sua importância, mas não elegeram (nem elegemos) o Satyros como líder inconteste e plenipotenciário.
Temos sim o direito de dormir. Seja pela lei, que impõe limites à farra de uns pelo bem de outros, seja pela desconhecida noção – para você e outros – de COMUNIDADE. Você tem todo o direito de festejar, de atuar, de tocar seu negócio, mas este direito é limitado pelo nosso de viver em paz.
Noção burguesa? Paciência.
http://www.tsavkko.com.br/2012/12/satyros-ira-fechar-viva-classe-media.html