REFLEXÃO | O Teatro como Escola do Mundo

Nos últimos dias, vivi uma pequena epifania aqui na SP Escola de Teatro. Foram dezesseis experimentos, oito em cada turno. Dezesseis sopros de invenção, de coragem, de mundos nascendo diante de nós. Há algo profundamente comovente nesse instante em que a criação encontra o olhar do outro. Um lampejo em que a arte se torna o próprio gesto de existir.

Esses experimentos acontecem três vezes por semestre, e cada vez é como se a escola se reinventasse. Porque, aqui, aprender é verbo em carne viva. Nossa pedagogia parte da experiência. E não há metáfora nisso. Aprendemos fazendo, errando, recomeçando, refazendo, até que o conhecimento se torne corpo, respiração, presença.

A cada semestre, escolhemos um tema, uma provocação, uma pergunta lançada ao mundo. A partir dele, erguemos um pequeno universo pedagógico. O eixo define o território de encontro e de ação, o espaço onde diferenças se tocam e se transformam. O operador é aquele que nos ajuda a ver com outros olhos – um pensador, uma artista, alguém que abre brechas na maneira de pensar e de sentir. O material de trabalho é o mundo: suas dores, suas cores, suas urgências, aquilo que nos comove e nos obriga a dizer. E o artista pedagogo é aquele que veio antes, que experimentou e, ao experimentar, nos deixou rastros de possibilidade.

Entre esses quatro pilares, algo invisível acontece. Algo que não cabe em planilhas nem em relatórios. É o instante em que um estudante, pela primeira vez, percebe que aquilo que faz é arte. E que arte é também vida. É quando o palco se torna espelho, e o aprendizado, rito.

A SP Escola de Teatro é, no fundo, uma casa que ensina o mundo. Aqui, o saber nasce do chão, da escuta, do risco. Aprender é um ato poético. Ensinar, um gesto de fé. E, enquanto houver alguém disposto a criar diante do abismo, a escola continuará viva. Porque o teatro, como a vida, só existe quando compartilhado.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
Post criado 1951

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.

De volta ao topo