A psicanálise nunca nos prometeu respostas. Não é desse tipo de ciência que se ocupa. O que ela nos dá, na melhor das hipóteses, é um mapa das nossas feridas. Uma cartografia das dores, com suas cores e suas margens borradas. As respostas, se é que existem, estão sempre além do consultório.
O que ela me ensinou, no entanto, foi precioso. As perguntas são mais importantes do que as respostas. E, sobretudo, onde exatamente dói cada uma delas. Há dias em que eu me convenço de que seria mais fácil não olhar. Fingir que as perguntas não existem. Varrer a poeira para debaixo do tapete e seguir, como se nada tivesse acontecido. Mas há um incômodo secreto, uma presença incansável, que nos lembra. O que evitamos é justamente aquilo que nos pertence de modo mais íntimo.
Foi numa sessão com um paciente que entendi, de fato, o poder do ponto final. Ele me disse: “eu poderia ter dito só ‘me perdoe.’” E ficou em silêncio.
Eu vi. Percebi ali, na secura do ponto final, um gesto que nenhuma vírgula conseguiria sustentar. Porque a vírgula é astuta. Ela se infiltra com um “mas”, um “porém”, um “porque”, e a verdade se dilui em justificativas.
Perdoar, viemos a entender juntos, não é um tratado. Não é um discurso que precisa se explicar. É um gesto que não suporta a hesitação. A vírgula trai, o “mas” denuncia. É o superego enfileirando provas, retóricas, razões para não soltar a corda.
O perdão, quando é de verdade, cabe num sopro. Uma frase curta. Um punho aberto. Um ponto final.
E é talvez por isso que a psicanálise ainda me cativa, apesar de não me dar todas as respostas. Porque me convida, sessão após sessão, a encontrar coragem para dizer, ou ouvir, as frases mais difíceis sem medo do silêncio que as segue. A confiar que, às vezes, um simples “me perdoe.” basta.
E ponto.
