Prêmio Shell de Teatro se atualiza na era da diversidade com homenagem a Léa Garcia e Teuda Bara: veja vencedores

Durante praticamente três décadas o Prêmio Shell de Teatro foi focado na produção teatral de uma elite branca teatral nacional, salvo raríssimas exceções, como quando premiou em 2017 pela primeira vez uma atriz negra, Vilma Melo, ou em 2011, quando o iluminador trans Léo Moreira Sá venceu como melhor iluminador ao lado de Rodolfo García Vázquez, da Cia. Os Satyros.

Assim, ao abarcar maior diversidade em sua 33ª edição, realizada nesta terça, 21 de março, no Rio de Janeiro, o Prêmio Shell se atualiza na era da diversidade, que não pode mais ser ignorada.

Pela primeira vez, premiou uma artista trans na categoria de melhor atriz, Verónica Valenttino, do premiadíssimo musical Brenda Lee o Palácio das Princesas, além de ter vários artistas negros e oriundos de lugares periféricos, coisa até então pouco comum no Shell, em sua história passada mais afeito a profissionais dos palcos da zona sul carioca ou dos Jardins paulistanos.

Ganhadores do 29º Prêmio Shell de Teatro em 2017: diversidade não era comum entre vencedores da premiação – Foto: Divulgação

É preciso lembrar que a chegada do Shell a uma lista de premiados mais diversa segue tendência abertas por outras premiações internacionais, a exemplo do proprio Oscar, Grammy ou Tony, e sobretudo nacionais, caso do Prêmio Bibi Ferreira, com artistas trans premiadas em 2022, e do Prêmio Arcanjo de Cultura, que desde sua primeira edição, em 2019, abarcou as diversidades, premiando as atrizes trans Nany People e Glamour Garcia, em 2019, e Marcia Dailyn, em 2022, para ficar em dois exemplos.

A edição deste ano do Prêmio Shell deixou de ter São Paulo como uma das sedes da cerimônia — o que faz a cerimônia se distanciar da classe teatral paulistana, aquela que constrói o maior mercado cênico do País. O Shell escolheu juntar as edições do Rio e de São Paulo em uma só cerimônia, realizada no Teatro Riachuelo, no centro do Rio de Janeiro.

Teuda Bara, 81, atriz mineira do Grupo Galpão, e Léa Garcia, 90, artista carioca referência na representatividade negra das artes, foram as grandes homenageadas da noite e foram aplaudidas de pé.

As apresentadoras da cerimônia foram Marisa Orth e Verônica Bonfim. Outro momento forte foi a apresentação da cantora Alaíde Costa, cantando Manhã de Carnaval, clássico do filem Orfeu Negro, de 1959, que rendeu a Léa Garcia indicação como Melhor Atriz no Festival de Cannes, na França. O grupo Barca dos Corações Partidos cantou Ponteio, música vitoriosa dos Festivais da Record na década de 1960, levantando novamente a plateia quase 60 anos depois.

É bom para o teatro e para a sociedade que o Prêmio Shell reconheça que o teatro brasileiro precisa ser tão diverso quanto o País. E que teatro não deve ser uma arte para alguns poucos privilegiados, mas para todos. Para uma premiação tão tradicional e durante décadas enxergada como elitista, é um frescor perceber que não é mais possível ignorar os novos tempos. Ainda bem.

Premiação que não foi realizada nos tempos de pandemia, justamente quando mais os artistas dos palcos mais necessitaram de apoio e reconhecimento, o Prêmio Shell escolheu seus vitoriosos entre espetáculos em cartaz no Rio de Janeiro e em São Paulo entre 1 de janeiro e 31 de março de 2020 e 1 de abril a 31 de dezembro de 2022, ignorando a produção de todo o período de restrições sanitárias.

33º Prêmio Shell de Teatro – Vencedores

RIO DE JANEIRO
DRAMATURGIA
• Marcio Abreu e Nadja Naira por “Sem Palavras”

DIREÇÃO
• Renata Tavares por “Nem Todo Filho Vinga”

ATOR
• Cridemar Aquino por “Joãosinho e Laíla: Ratos e Urubus, Larguem Minha Fantasia”

ATRIZ
• Vera Holtz por “Ficções”

CENÁRIO
• André Curti e Artur Luanda Ribeiro por “Enquanto Você Voava, Eu Criava Raízes”

FIGURINO
• Wanderley Gomes por “Vozes Negras: A Força do Canto Feminino”

ILUMINAÇÃO
• Alexandre O. Gomes por “A Jornada de um Herói”

MÚSICA
• Itamar Assiere pela direção musical de “Morte e Vida Severina”

ENERGIA QUE VEM DA GENTE

• “Cia de Mystérios e Novidades”, por fomentar há 40 anos um teatro marcado pela diversidade e multiplicidade e, mais recentemente, por ter criado sua Escola Sem Paredes, um complexo de espetáculos, performances, cortejos, intervenções urbanas, exposições, aulas, seminários, oficinas e atividades socioculturais fundamentais para a ocupação do território da zona portuária do Rio de Janeiro e para o enriquecimento do calendário cultural da cidade.

 

SÃO PAULO
DRAMATURGIA
• Dione Carlos por “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”

DIREÇÃO
• Ruy Cortez e Marina Nogaeva Tenório por “A Semente da Romã” e “As Três Irmãs”

ATOR
• Clayton Nascimento por “Macacos”

ATRIZ
• Verónica Valenttino por “Brenda Lee e o Palácio das Princesas”

CENÁRIO
• Bira Nogueira por “Meu Reino por um Cavalo”

FIGURINO
• João Pimenta por “F.E.T.O (Estudos de Doroteia Nua Descendo a Escada)”

ILUMINAÇÃO
• Cesar Pivetti por “Brilho Eterno”

MÚSICA
• Alisson Amador, Amanda Abá, Denise Oliveira e Jennifer Cardoso pela execução musical em “Cárcere ou Porque as Mulheres Viram Búfalos”

ENERGIA QUE VEM DA GENTE
• “Coletivo 302”, pela valorização da ancestralidade em Cubatão, na baixada santista, refletindo sobre a herança socioambiental da época em que era a cidade mais poluída do mundo, expressa de maneira contundente no espetáculo Vila Parisi.

 

Fonte: Blog do Arcanjo

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