Os Satyros estreiam Baderna Planet

Novo espetáculo promove o espírito baderneiro em tempos sufocantes

A partir do próximo dia 6 de outubro, Os Satyros estreiam sua nova produção, celebrando os 30 anos de existência do coletivo. Mantendo-se fiéis à Marietta Baderna, Os Satyros criaram um espetáculo onde necropolítica, racismo, masculinidade tóxica, violência social, coaching, depressão, bolhas digitais, capoeira e fake news se tornaram matéria básica para a criação de cenas que pretendem discutir os tempos atuais em registro irônico, poético e radicalmente baderneiro.

Marietta Baderna, uma grande mulher

A palavra baderna significa confusão, desordem, ausência de regras. Baderna é uma palavra exclusiva do Brasil, surgida no Rio de Janeiro no século XIX. No entanto, sua origem é muito mais complexa do que se possa pensar, e sua conotação negativa se deve ao espírito conservador e escravocrata do Brasil do Império. Ela foi inspirada pela vida e obra de uma artista italiana revolucionária que viveu no Rio de Janeiro em meados do século XIX.

A bailarina Marietta Baderna nasceu na Itália em 1829, em Piacenza. Quando pequena, estudou dança e chegou a ser bailarina do Teatro Scala de Milão. Já naquela época, Marietta Baderna era engajada na militância política, lutando pela libertação do jugo austríaco sobre a Itália.

Em 1849, fugindo da perseguição política, Marietta exila-se no Brasil com o pai, o músico Antonio Baderna, que acaba falecendo poucos meses depois.

Marietta faz muito sucesso nos palcos, conquistando grandes plateias no Teatro São Pedro de Alcântara, na capital do Império, o Rio de Janeiro. Ligou-se rapidamente ao movimento abolicionista e trouxe para os palcos elementos do lundum, dança afro-brasileira realizada por escravos, que foram incorporados ao balé clássico. Suas apresentações nos principais palcos do país, misturando o balé clássico com elementos da música e dança africanas, causaram furor e foram censuradas. Também liderou greves e protestos contra decisões do Império. Parte de seus honorários ela doava para causas revolucionárias na Itália. 

Em uma sociedade machista e escravocrata, Marietta sofreu perseguição política de grupos conservadores. No entanto, seus fãs, os “baderneiros” ou “badernistas”, começavam a gritar e bater pés em suas apresentações, caso houvesse qualquer tipo de censura ao seu trabalho.

Marietta morreu em 1892, no Rio de Janeiro.

Através do espetáculo Baderna Planet, Os Satyros se inspiram no espírito de Marietta Baderna, para provocar a reflexão e o espírito crítico nestes tempos em que os direitos humanos vêm sendo questionados. Como diria um dos representantes máximos do governo, os “direitos humanos devem ser para os humanos direitos”, e Marietta Baderna responderia: “Todos são humanos direitos para os direitos humanos”.

O espetáculo

O espetáculo “Baderna Planet” partiu de um grupo de pesquisa criado para a discussão da intolerância. Com o decorrer da investigação, ampliou-se o leque de temas sobre os quais se debruçou: necropolítica, racismo, feminismo, LGBTfobia, violência cotidiana. Todos esses assuntos foram abordados em jogos teatrais e debates, ao mesmo tempo em que a equipe foi improvisando com sons e canções criadas por todos ao lado do compositor André Luh, e se inspirando na estética do performer australiano Leigh Bowery.

Sinopse

Após mais de 120 anos de sua morte, o espírito de Marietta Baderna volta ao planeta Terra, aterrissando no Brasil para inspirar Os Satyros a criar um espetáculo baderneiro, com temas que discutem as misérias do país tropical. Cenas sobre necropolítica, escravidão, masculinidade tóxica, violência social, coaching, depressão, bolhas digitais e fake news, denunciando o estado paranoico a que chegou o país.

Ficha Técnica

Baderna Planet
Texto: Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Direção: Rodolfo García Vázquez
Elenco: Alessandra Nassi, Alex de Felix, Ana Paula Kuller, André Luh, Beatriz Ferreira, Diego Ribeiro, Elisa Barboza, Felipe Estevão, Heyde Sayama, Icaro, Gimenes, Israel Silva, Julia Francez, Karina Bastos, Luis Holliver, Luis Maurício Sousa, Marcelo Thomaz, Marcelo Vinci, Mariana França, Roberto Francisco, Silvio Eduardo, Vitor Lins
Cenário: Thiago Zanotta
Figurinos: Rodolfo García Vázquez
Trilha sonora original: André Luh

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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