Ivam Cabral, ator, dramaturgo e um dos fundadores da Cia. Os Satyros, de São Paulo, realiza o workshop “O Teatro Expandido”, hoje e amanhã, das 18 às 23 horas, no Sesc Rio Preto, com entrada gratuita. Mas o que isso significa? O teatro expandido é um conceito desenvolvido pelo diretor da trupe, Rodolfo García Vázquez, a partir da ideia de que o homem contemporâneo depende de suas “próteses”.
Ele não se refere a próteses no sentido literal, como a prótese dentária, usada para substituir um dente quebrado, por exemplo. Essas “próteses” são metáforas para questões virtuais. Ou seja, as pessoas do séculos 21 se tornam cada vez mais dependentes do celular, do tablet, do notebook e de outros objetos tecnológicos.
“Nossa identidade é multiplicada. Tenho vários perfis nas redes sociais e, assim, deixo de ser um para ser muitos. Ao mesmo tempo em que estou em São Paulo, posso estar nos lugares mais escondidos”, explica Cabral. Esse pressuposto deu origem a uma espécie de “dramaturgia em tempo real”. A primeira experiência nesse sentido foi “Hipóteses Para o Amor e a Verdade”, em 2009.
No espetáculo, os atores utilizam câmeras digitais e celulares ao vivo e convidam os presentes a também deixarem seus aparelhos ligados durante a apresentação. Em dado momento, um personagem telefona para uma pizzaria e diz que vai se matar, provocando reações imprevisíveis dos atendentes desavisados, como desligar a ligação ou dar conselhos. E é justamente essa interferência externa que vai conduzir os caminhos da montagem.
Situação semelhante ocorre em “Cabaret Stravaganza”, que estreou em 2011. O trabalho se foca na mastectomia (cirurgia da retirada das mamas) de uma transexual. Para que Lu possa se transformar em Léo, o grupo lança uma campanha nas plataformas de crowdfunding e arrecada (de verdade, graças a doações de anônimos) os R$ 12 mil necessários para a intervenção médica.
Léo é o iluminador do espetáculo que, após se submeter ao bisturi, em julho do ano passado, sobe ao palco para mostrar o resultado.
O teatro expandido é apenas uma vertente do trabalho do grupo, fundado em 1989 e conhecido por suas investigações em busca de um teatro essencialmente experimental.
Para Cabral, esse tipo de experiência não deve se restringir à companhia, até porque reflete uma exigência do público provocador de se reconhecer nas obras. “Não consigo imaginar teatro sem tecnologia. Quando Shakespeare escreveu suas peças, estava pautado por coisas do mundo em que vivia. Nós também podemos ser catalisadores das coisas do nosso tempo. Sinto que existe uma tendência para a construção de um fazer teatral diferente”, explica o artista.
A última aparição do ator e dramaturgo em Rio Preto havia sido em julho de 2010, durante o Festival Internacional de Teatro (FIT). Na ocasião, ele autografou a coleção “Primeiras Obras”, editada pela Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, com 61 textos para o teatro escritos por dramaturgos ligados ao movimento da Praça Roosevelt. Em 2004, o FIT recebeu três espetáculos d’Os Satyros: “De Profundis” , “A Filosofia na Alcova” e “Kaspar ou a Triste História do Pequeno Rei do Infinito Arrancado de sua Casca de Noz”.
Serviço
O Teatro Expandido. Hoje e amanhã, das 18 às 23 horas, no Sesc
Rio Preto. Grátis, mas há vagas limitadas. Mais informações pelo telefone (17) 3216-9300
Atividade faz parte de mostra teatral
A vivência com Ivam Cabral integra a grade de atividades formativas da 9ª edição do festival Curta Teatro, realizado pela Associação dos Artistas, Técnicos, Produtores e Gestores de Cultura de Rio Preto e Região (Associart), em parceria com o Sesc Rio Preto. Entre os dias 13 e 14 de abril, o dramaturgo, diretor e professor de artes cênicas Roberto Alvim coordenou a oficina “Criação e Análise das Estratégias Dramatúrgicas Empregadas na Construção de Poéticas Contemporâneas”.
O encontro terá um desdobramento nos dias 29 e 30 do mês que vem, com o retorno do profissional à cidade. São 20 vagas disponíveis e as inscrições devem ser feitas com antecedência.Segundo Drica Sanches, diretora executiva da Associart,ainda está em negociação um workshop com o diretor Paulo de Moraes, da Armazém Companhia de Teatro, em data a ser definida entre julho e agosto.
Evolução
Desde que as duas entidades firmaram parceria, há três anos, o Curta Teatro deixou de ser uma mera mostra para se tornar um evento voltado à pesquisa e à experimentação de novas linguagens cênicas. “Nosso objetivo é deixar uma contribuição para a cidade e para os grupos. Desta vez, nosso foco está na dramaturgia e na encenação, que são a base de qualquer projeto”, diz Drica.
O Curta Teatro ocorre, de fato, entre os dias 27 de agosto e 1º de setembro, no Sesc. Serão apresentados dez projetos inéditos, com duração de 10 a 20 minutos. Também serão realizados debates com profissionais convidados (veja a lista de atrações nesta página). Qualquer pessoa pode participar das atividades formativas ou assistir às apresentações. Mais informações pelo telefone (17) 3014-4058.
Serviço: Diário da Região, 28 de maio de 2013