O que os meus olhos viram

Ao chegar na Praça Roosevelt, 21 anos atrás, nunca pensei que veria as coisas que acabei, involuntariamente, encontrando.
Vi (quase) de tudo: uma mulher que matou a mãe e o marido, porque descobriu que os dois eram amantes e passou mais de 15 anos na prisão; um jovenzinho querido e trabalhador que, quando o conhecemos, havia matado duas pessoas e, durante os anos que se seguiram, foi matando outras várias pessoas, e nos ligava do presídio pedindo ajuda; crianças abusadas sexualmente por familiares e até um funcionário nosso que matou uma atriz, a picotou e a colocou numa mala.
Essas pessoas não passaram pelas nossas vidas, simplesmente. Acabaram desenvolvendo laços e trabalharam (algumas, até hoje) conosco.
Também encontramos prostitutas e prostitutos, imigrantes ilegais, travestis desamparadas e até moradores de rua. Acabaram, também, fazendo parte de nossas vidas e dividiram histórias conosco, trabalhando em nossos projetos. Muitos, até hoje.
Nesse período, fomos ameaçados de morte, tamanha vulnerabilidade que vivíamos (e vivemos) na Praça.
Mas entendemos rapidamente que o mundo se muda todo dia e existem, sim, motivos para comemorações. Porque viver é amparar os sonhos.
Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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