O LADO OCULTO DO CAIRO, A CIDADE DA IMENSIDÃO

Mulher vendendo bananas na Bairro do Lixo, no Cairo

Cairo é uma cidade enorme e tem o trânsito mais caótico que jamais vi em qualquer parte do planeta. Um lugar dificílimo de caminhar. Não apenas porque somos abordados o tempo todo por ambulantes que nos querem vender seus produtos, mas, sobretudo, pelo atual momento político que vive o Egito.

No primeiro dia na cidade, fui conhecer dois dos lugares mais espetaculares, e que mais me interessaram, da cidade: o Bairro do Lixo e a Cidade dos Mortos.

O Bairro do Lixo, a caminho da igreja copta de São Simão, fica na encosta de uma grande pedreira. Ruas estreitas são talhadas entre  rochas, cercadas por casas, onde famílias inteiras vivem e se dedicam à reciclagem do lixo.

O cheiro forte, quase insuportável, da enorme quantidade de lixo, espalhado por todos os cantos, se mistura aos dos escapamentos dos caminhões que sobem e descem a colina, sempre carregados com os detritos da grande Cairo.

Em meio a cabras e BMWs dos milionários do lixo, encontra-se um comércio variado de quitandas, a lojas de eletrodomésticos, num vai-e-vem que lembra as favelas brasileiras, mas que está muito além delas. É um bairro economicamente importante.

A Cidade dos Mortos, na verdade o cemitério do Norte, não é apenas um local de sepultamentos. Convivem com os túmulos e jazigos – muitos deles luxuosíssimos –, residências de pessoas.

Tudo começou no século 14, quando Cairo era a maior cidade do mundo e não tinha acomodações adequadas para os seus mais de 600 mil habitantes. Iniciaram, então, neste período, as invasões destes túmulos por milhares de sem-teto.

Desde esta época, as sepulturas familiares foram construídas com um cômodo para que os visitantes pudessem descansar, comer e, muitas vezes, pernoitar. Ao longo do tempo, as ricas famílias, proprietárias dos mausoléus, entraram em acordo com os invasores.

Hoje, conhecido como Cidade dos Mortos, milhares de pessoas moram dentro do cemitério e convivem, harmoniosamente, com os mortos.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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