Livro faz registro histórico do teatro de grupo em São Paulo e lança selo Lucias

Por Miguel Arcanjo Prado

São Paulo ganha um baita presente na próxima segunda, 25, quando a cidade completa 467 anos de idade. Trata-se do registro histórico do teatro que pulsa em suas salas e ruas com o lançamento do livro Teatro de Grupo na Cidade de São Paulo e na Grande São Paulo: Criações Coletivas, Sentidos e Manifestações em Processos de Lutas e de Travessias.

A obra é um lançamento da Associação dos Artistas Amigos da Praça (Adaap), sob direção executiva de Ivam Cabral. Reúne textos de 194 coletivos, com seus processos criativos, e artigos de 16 especialistas. Diante da efemeridade do teatro, um livro deste porte merece comemoração.

O tomo tem organização de Alexandre Mate e Marcio Aquiles e lança o selo Lucias, uma homenagem da Adaap a Lucia Camargo, importante gestora cultural que morreu em 2020, aos 76 anos. A obra ainda celebra os 10 anos da SP Escola de Teatro, regida pela instituição, centro de formação das artes do palco com reconhecimento internacional.

Além dos organizadores Alexandre Mate e Marcio Aquiles, participaram do processo de feitura do livro Elen Londero (Projetos Especiais), Ivam Cabral (Diretor Executivo) e Joaquim Gama (Coordenador Pedagógico). A ação da Adaap tem parceria com a Secretaria Municipal de Cultura.

O lançamento do livro será no Canal do Youtube da SP Escola de Teatro, no dia 25 de janeiro, às 19h, com participação gratuita do público.

Este livro certamente vai se tornar uma referência e fonte para pesquisadores, estudantes e artistas do mundo todo. Provavelmente é a obra mais completa sobre o fenômeno teatro de grupo publicada no Brasil até hoje. Além de produzir novos conhecimentos, o objetivo da Adaap é difundi-los, de forma a popularizar essas centenas de coletivos, dar mais visibilidade a seus trabalhos e legitimar uma produção que gera frutos notórios para a economia e a cultura do país”, afirma Ivam Cabral.

O projeto cartografa a trajetória de grupos mais novos até os mais veteranos da cena paulistana, que trafegam em diferentes linguagens e modos de criação coletiva nas cinco regiões da cidade e municípios da Grande São Paulo, abrangendo uma extensão territorial de quase 8 mil km². Após a Mostra Teatral SP 10 Anos, sucesso em novembro de 2020, a SP Escola de Teatro continua a comemoração de uma década com o livro especial que ficará disponível, de graça, na plataforma Issu, além de ter distribuição física para escolas, instituições e pesquisadores de teatro.

 

 

Pesquisa histórica

A feitura do livro começou em agosto de 2019 e terminou neste janeiro de 2021. Além de São Paulo, são mostrados grupos de municípios como Caieiras, Cotia, Embu, Francisco Morato, Guararema, Guarulhos, Jandira, Mauá, Osasco, Ribeirão Pires, Santo André, São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul, Suzano e Taboão da Serra. Também estão presentes coletivos veteranos, como Oficina, TUOV, Ventoforte, Pasárgada, Engenho, XPTO e A Jaca Est.

O pesquisador Alexandre Mate, professor aposentado do Instituto de Artes da Unesp, afirma que a resistência desses grupos é mostrada. “Nesse processo de tantos e permanentes enfrentamentos, o sujeito histórico teatro de grupo caracterizava-se, antes da pandemia, em produção de inquestionável beleza e pertinência militante, fincado em diferentes comunidades e desenvolvendo as mais variadas ações, tanto estéticas como de formação. Essa cena tem uma produção absolutamente singular, inventiva, criativa e entre as mais importantes daquilo que, em outras épocas, se definiu ser Ocidente”, afirma o renomado pesquisador do teatro de grupo em São Paulo.

Para Marcio Aquiles, que organizou o livro com Alexandre Mate, o resultado é um panorama múltiplo de importância histórica. “Tanto os 194 textos escritos pelos coletivos participantes quanto os artigos teóricos iniciais revelam profunda preocupação por esse momento histórico de valorização da barbárie e desprezo – por parte do governo federal e de certa elite medíocre – pela cultura e pelo conhecimento (seja ele artístico ou científico). O livro coloca-se também, portanto, tal qual o manifesto por meio do qual coletivos e pesquisadores foram convidados para participar, como obra de resistência ao embrutecimento e à estupidez”, diz.

Para Mate, os grupos teatrais deixam um legado artístico, ético, estético e de capacidade de resistência e luta. “Os coletivos teatrais, espalhados pela cidade e pelos municípios vizinhos, têm consciência da importância do teatro na vida comunitária e cultural, e estão a construir histórias em um permanente processo de disputa simbólica e militante contra todas as barbáries por que tem passado o país. Assisti espetáculos no centro e nas periferias, e um número surpreendente de novos grupos apareceu com pesquisas afrodescendentes, com relação às temáticas e pautas LGBTQI+, entre outras”, pontua.

Selo Lucias

A publicação de Teatro de Grupo na Cidade de São Paulo e na Grande São Paulo: Criações Coletivas, Sentidos e Manifestações em Processos de Lutas e de Travessias marca o lançamento do selo Lucias, iniciativa da Associação dos Artistas Amigos da Praça, uma organização que rege os projetos da SP Escola de Teatro e da MT Escola de Teatro. A ideia é homenagear Lucia Camargo, que foi coordenadora de Extensão Cultural e Projetos Especiais da escola e faleceu em 2020.

“Inicialmente, o nome do selo surge como uma singela homenagem à Lucia Camargo, fundamental para o teatro brasileiro dos últimos 50 anos, por seu papel como gestora cultural, fomentadora das artes, professora, jornalista e crítica. Porém a ideia é contemplar as coletividades, por isso Lucias no plural, representando todas e todos que ajudaram a transformar o teatro da Grande São Paulo em símbolo de excelência e diversidade”, conclui Ivam Cabral.

Fonte: Blog do Arcanjo

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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