DRAMATURGO CUBANO REAFIRMA SUA CRENÇA NA FORÇA DAS PALAVRAS
Reinaldo Montero veio ao Brasil para ministrar oficina de escrita
Marcio Aquiles
O dramaturgo, romancista e roteirista Reinaldo Montero é um autor que gosta de perseguir a força da palavra em vários campos das artes.
No teatro, o cubano é conhecido no Brasil principalmente por “Liz”, peça premiada encenada pelos Satyros entre 2008 e 2010.
O texto retrata as relações de poder durante o reinado de Elizabeth 1ª no século 16 e caracteriza-se como campo aberto a interpretações metafóricas que estabeleçam paralelos ao regime castrista.
“No fundo, todo teatro é político, seja qual for o contexto de encenação ou a orientação social envolvida”, afirma Montero. “Assisti a ‘Acordes’ [montagem do Teatro Oficina baseada em texto do alemão Bertolt Brecht] e vemos o pano de fundo brasileiro na história.”
A literatura é outra seara visitada por Montero em busca da expressão de seu pensamento. “Eu gosto de escrever sobre assuntos diversos. Pode ser algo sobre a cultura europeia ou sobre a Cuba contemporânea.”
Seu romance “As Afinidades” (Companhia da Letras), por sinal, une estas duas pontes, ao emular a temática de “As Afinidades Eletivas”, de Goethe, transpondo-a para a ilha centro-americana.
“Mesmo trabalhando diversos temas, há uma continuidade em meu trabalho. É como um colar em que há diversas pedras, mas todas passam pelo mesmo fio.”
LIGAÇÃO COM O BRASIL
A primeira vez em que o cubano veio ao Brasil foi em 1986, para participar da Bienal do Livro de São Paulo daquele ano. Desde então, visita amiúde o país.
Desta vez, Montero veio a São Paulo acompanhado da atriz e diretora Sahily Moreda para ministrar uma oficina de escrita criativa na SP Escola de Teatro.
E não chegaram de mãos vazias. Montero presenteou o diretor da escola, Ivam Cabral, cofundador dos Satyros, com uma peça inédita. “Chama-se ‘Epifania’, e é um monólogo escrito para ele. Eu disse que ele não tem a obrigação de encenar, pode fazer o que quiser com o texto.”
Questionados sobre o teatro cubano atual, Montero e Moreda destacam a variedade de estilos, com presença tanto de peças engajadas quanto abstratas. “A maior complexidade do teatro contemporâneo é a profissionalização”, afirma Montero.
“Como é frequente no mundo, o teatro em Cuba depende de incentivos do Ministério da Cultura. O ingresso custa em média US$ 0,20 [cerca de R$ 0,40], é impossível aos atores viverem de arrecadação”, completa Moreda.
Apontam também as idiossincrasias do ofício na ilha. “Hoje, praticamente todos os atores saem da universidade”, diz Moreda. “Mas os maiores diretores cubanos não tinham formação acadêmica”, conta Montero.
Fonte: Folha de S. Paulo, 20 de dezembro de 2012