O tempo voa. A gente o vê escapando por entre os dedos, repetindo o velho desespero de tentar segurar o vento, sabendo, desde sempre, que ele não se deixa prender. Tudo passa muito rapidamente…
Amanhã, 27 de novembro, nossa Guadalupe completa um ano. Apenas um aninho, embora já carregue aquela sabedoria silenciosa que só os animais possuem. Vive num tempo sem culpa, sem pressa, sem ansiedade, sem medo do que ainda não chegou.
E enquanto vou vendo os dias passarem, ontem aconteceu algo verdadeiramente comovente. Nossa pequena entrou no cio. A bebê mais linda da casa, aquela que até outro dia tropeçava nas próprias patinhas, agora anda serelepe pelo mundo, farejando encantos. De repente, olha para o Bernardo, o irmãozinho de quatro meses, com um interesse que ele nem sabe decifrar. Ele, tão bebê ainda, recém-liberto para brincar com outros cães depois de completar o ciclo de vacinas, não entende muito bem a pressa do mundo. Guadalupe, sim. Ela chora. Se derrete. Sobe pelas paredes. Se ilumina diante de cada cachorro que encontra no caminho, como se algo nela tivesse acordado depois de um longo sono.
É bonito demais esse susto que a vida dá na gente quando decide florescer.
E então eu vou pensando no tempo. Esse artesão invisível que borda transformações na carne e na alma da gente. Em um piscar, a menininha vira garota, o bebê vira rapazote, e nós, bobos de tanta ternura, acompanhamos tudo de mãos cheias e olhos marejados. A natureza segue seu curso, tão sábia, tão imensa, tão certeira. Nós apenas aprendemos a testemunhar.
Que linda que é a vida quando ela resolve anunciar seus ciclos sem pedir licença. Que potente perceber que estamos sempre a um passo de alguma primavera íntima. Mesmo quando não sabemos nomear.
Guadalupe cresce, Bernardo começa a descobrir o mundo, e aqui dentro de nós alguma coisa se abre também. Um sorriso, talvez. Uma memória antiga. Uma promessa silenciosa de que tudo renasce. Porque é assim mesmo. A vida insiste. E é primavera.
