#FICAMUGUNZA | Pronunciamento da Cia. de Teatro Os Satyros em defesa do Teatro de Contêiner Mugunzá

O que está prestes a ser arrancado da região da Luz não é apenas um punhado de contêineres empilhados com engenho. É um pulmão cívico que, desde 2016, respira arte onde antes só havia ferrugem e abandono. Ali, a Cia. Mugunzá investiu seus próprios recursos para erguer o Teatro de Contêiner — um gesto de ousadia inventiva que transformou um terreno esquecido em referência nacional de cultura, convivência e cidadania.

Hoje, a Prefeitura de São Paulo notifica o grupo a desocupar o espaço para construir um “hub de moradia social”. Moradia digna é urgência inegociável, mas ela não precisa nascer sobre os escombros simbólicos de quem já está servindo à comunidade. Cultura e habitação não são peças rivais num tabuleiro de xadrez urbano; podem — e devem — ocupar a mesma quadra, somando dignidade de teto e dignidade de sentido.

Expulsar o Teatro de Contêiner é rasgar um capítulo vivo de resistência numa região historicamente marcada pela ausência de políticas integradas. Significa silenciar oficinas que acolhem crianças e jovens, calar vozes que ecoam denúncias e afetos, amputar um espaço que prova diariamente que segurança pública também se faz com palco, luz e plateia.

Reivindicamos, portanto, diálogo real — não despachos burocráticos. Que o poder público reconheça a potência pedagógica, social e econômica já instalada naquele endereço. Que se busque um desenho urbanístico capaz de abraçar, e não expulsar, um projeto que não custou nada ao cofre municipal e devolve muito à cidade em pertencimento e esperança.

O futuro que desejamos para São Paulo não cabe em decretos sumários: ele se constrói com pontes entre moradia e cultura, entre tijolo e poesia, entre direito e sonho. O Teatro de Contêiner Mugunzá é essa ponte. Arrancá-la agora é condenar a Luz a mais um ciclo de sombras.

Não deixemos que o silêncio ocupe o lugar da arte. Que permaneça de pé o contêiner que virou farol — para que o direito à moradia venha acompanhado do direito inalienável de imaginar.

Cia. de Teatro Os Satyros
São Paulo, maio de 2025

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
Post criado 1869

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