Hoje é dia de ver nascer o palco outra vez.
Os experimentos cênicos dos nossos estudantes deste semestre chegam, pela primeira vez, ao olhar do público. Antes, havia apenas o sussurro das ideias. Projeto, rabiscos, ensaios, silêncios, as conversas entre um corpo e o vazio. Agora, é o instante da travessia. Da imaginação à cena, do medo à revelação.
A SP Escola de Teatro se transforma nesse momento. Há um rumor leve nos corredores, um tremor bonito que antecede o gesto. Para muitos deles e delas, é a primeira vez diante de uma plateia. E, por isso mesmo, é como se o mundo se abrisse em dois. O que foi sonho e o que começa a ser real. Nós, que acompanhamos o processo, reconhecemos nesse instante algo quase sagrado. A metamorfose da aprendizagem em arte.
O grande tema que guia tudo é “solidão”. Um território vasto, humano demais.
Nosso farol é o livro A gente mira no amor e acerta na solidão, da psicanalista Ana Suy – e, a partir dele, as vozes de Eliane Brum, Paula Rego e Luiz Braga compõem o mapa. São guias de uma travessia entre o íntimo e o coletivo, entre o grito e o silêncio. O dramaturgo Franz Xaver Kroetz, com Depois do expediente, é o artista-pedagogo que nos ensina a escutar o cotidiano. Tudo vibra na paleta dos módulos Amarelo e Vermelho: narratividade e projeto definido pelo núcleo de trabalho, respectivamente. Mente e corpo em movimento.
O mais bonito de tudo é ver o futuro brotar nos olhos dos nossos estudantes. Eles criam e, ao criar, se descobrem. As ideias, antes dispersas, começam a se condensar em forma, gesto, ritmo, palavra. Mas nada é definitivo, ainda. E que bom que não é. O teatro, como a vida, é feito de processo. Tudo pode mudar, se fortalecer, recomeçar. Afinal, este processo é o próprio espetáculo, e o espetáculo é apenas um rito de passagem. Porque existe algo de mágico nesse tempo. Um tempo que não se cabe em um coração só.
Talvez porque a criação sempre nasça acompanhada da angústia. A vertigem de se ver diante do desconhecido. E é justamente aí que mora o aprendizado maior. Reconhecer-se em transformação, inventar-se outra vez.
Hoje, ao assistir a esses primeiros lampejos, sinto que assisto também àquilo que nos sustenta como escola. O ato de confiar.
Confiar que o palco continua sendo o lugar onde o humano se revela. Frágil, inteiro, inacabado. Mas ainda assim, vivo!
E que, no fundo, educar para o teatro é isso. Mirar no amor, mesmo sabendo que quase sempre acertaremos a solidão.
