Entrevista Ivam Cabral – “As Mariposas”

A dramaturgia é de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, com direção de Vázquez. No elenco, treze atores veteranos da cia: Diego Ribeiro, Eduardo Chagas, Fabio Penna, Gustavo Ferreira, Henrique Mello, Ivam Cabral, Ju Alonso, Julia Bobrow, Nicole Puzzi, Marcia Daylin, Mariana França, Sabrina Denobile e Silvio Eduardo.

Com a atenção voltada às questões urgentes e mundiais que hoje vivemos, mergulhamos numa pesquisa em livros e ensaios sobre meio ambiente, algoritmos, fake news, biotecnologia, inteligência artificial, robótica, avatares, democracia e a construção da verdade.

Essa pesquisa resultou na investigação do impacto das tecnologias na construção das relações interpessoais, na forma de enxergar e lidar com os problemas e fatos do mundo contemporâneo, passando por temas como meio ambiente, reprodução assistida, eutanásia, criogenia, gaslighting, avatares, espectro autista, suicídio, disputas do poder, manipulação dos discursos de ódio e a construção da verdade.

Esta é a segunda vez que tenho a felicidade de ter Ivam Cabral aqui no @eunoteatro. Ele, que é Ator, Diretor e Dramaturgo, Doutor em Pedagogia do Teatro e Mestre em Artes Cênicas pela ECA/USP, é cofundador, ao lado de Rodolfo García Vázquez, da Cia. de Teatro “Os Satyros”. Como ator e dramaturgo, recebeu inúmeros prêmios, é um ícone do Teatro Brasileiro e referência em muitos outros países. Ivam, falou conosco sobre o processo de “As Mariposas”, sobre a evolução das peças digitais e muito mais. Em seguida, acompanhe um trecho da crítica feita pelo também querido, Miguel Arcanjo Prado, Diretor do site Blog do Arcanjo. Bacharel em Comunicação Social – Jornalismo – especialista em Mídia, Informação e Cultura na ECA-USP e mestre em Artes pela UNESP, crítico membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes). A crítica completa, de onde nosso trecho foi extraído, você confere no “Blog do Arcanjo“, (link abaixo do trecho da crítica).

Sou feliz por falar daquilo que gosto, sou feliz por estar rodeada de pessoas que sentem esse amor também, mas sou feliz, principalmente, por assistir esses veteranos acolhendo os mais novos, mostrando os caminhos, participando … isso é muito bonito e, é por isso, que o Teatro não morrerá jamais! Muito obrigada, Ivam Cabral e Miguel Arcanjo!


Eunoteatro –
A Cia Teatral “Os Satyros” são os pioneiros no teatro digital, “As Mariposas” é a primeira de 2021, a peça é a terceira parte de uma trilogia que reflete sobre os tempos que vivemos, batizada de “Trilogia Distópica”. A primeira produção foi a peça “A Arte de Encarar o Medo”, a segunda foi “Novos Normais – sobre sexo e outros desejos pandêmicos”. Existe algum elo entre as peças, ou cada peça tem seu próprio ciclo?

Ivam Cabral – As três peças partem de uma pesquisa em torno do tema “distopias”, que vem sendo investigado pelo Satyros já há algum tempo. Nossas primeiras investidas nesse campo vieram em 2009, quando pesquisamos materiais para “Hipóteses para o Amor e a Verdade”. Ali, apareceriam nossas primeiras abordagens sobre mundos distópicos. Me lembro que o celular passou a ser uma grande questão para nós, pessoal do teatro. Estávamos em cena e, de repente, um celular tocava. Uma chatice. Então, decidimos que a partir daquele momento qualquer pessoa que fosse assistir uma peça no Espaço dos Satyros poderia atender ou fazer uma chamada de seu celular. Uma ironia que tinha um propósito: discutir a recepção do público. Mais interessante, além de estarmos num território dramático, a peça era um drama e tinha poucos espaços para o riso. Uma tarefa difícil, mas que rendeu ao grupo indicações a premiações importantes, como o Prêmio Shell, por exemplo.

Eunoteatro – A Cia Satyros, diante da pandemia precisou se reinventar mais uma vez, e tornou-se pioneira no teatro digital, como se deu essa adaptação?

Ivam Cabral – Não tivemos escolha. Sem a aglomeração tão almejada por todos nós, tínhamos que recriar o sentido de continuar fazendo teatro. A internet foi a nossa única possibilidade real. E não hesitamos. Me lembro bem, fechamos o Espaço dos Satyros na semana do dia 13 de março do ano passado, e na seguinte, do dia 20, já estávamos trabalhando em modo digital. Também criamos o Quarentena Festival, no início de abril, um grande festival, o primeiro no mundo inteiramente virtual e envolvendo todas as linguagens, com a participação de artistas de 18 países. Atuaram com a gente nomes como Zeca Baleiro, Bárbara Paz e Alice Caymmi, só para citar alguns.

Eunoteatro –  O espetáculo “As Mariposas” é o mais ousado em recursos tecnológicos, esse resultado é fruto da evolução das peças anteriores?

Ivam Cabral – Acho que sim. Com o uso das ferramentas e com o passar do tempo, é evidente que vamos conhecendo melhor e nos familiarizando com o ambiente digital. O que era absolutamente frio no início vai ganhando temperaturas mais agradáveis, e o espaço da criação se amplia. Ainda nos sentimos num parque de diversões, com tantas saídas e possibilidades.

Eunoteatro – Como vocês fizeram para se desenvolverem tecnologicamente em tão pouco tempo, os atores tiveram algum treinamento específico? Quais os maiores desafios para os atores no teatro digital?

Ivam Cabral – Os Satyros têm a pesquisa em seu DNA. Em geral, quando iniciamos um processo de trabalho, sabemos muito pouco, quase nada, sobre ele. Fazemos questão de zerar tudo nesse momento. É como se a gente partisse para uma defesa de uma tese, elencando possibilidades e apontando probabilidades para o erro. O acerto não é exatamente uma busca porque, muitas vezes, as narrativas podem vir do erro. Importam as tentativas e as prospecções de algo que a gente ou duvidava, ou tinha receio, ou simplesmente não conhecia. E trabalhamos sempre em coletivo. Somos muitos. Nesse momento estamos apresentando três trabalhos e mais de 50 artistas se deslocam nesse desconhecido, pesquisando e experimentando não apenas expectativas, mas dados absolutamente concretos que transitam entre territórios tão distintos como os das humanidades todas e da ciência. Nessa busca, estamos produzindo novos conhecimentos, e temos consciência disso.

Eunoteatro – A peça conta a história de um futuro distópico, e hoje, vivemos situações que seriam impensadas há poucos anos, em virtude da pandemia. Vocês acham que por estarmos vivendo em meio a este caos, colabora de alguma forma na imersão e reflexão do espectador?

Ivam Cabral – A ideia de “As Mariposas”, só para situarmos, apareceu antes da pandemia, em 2019. Quando pensamos nesse trabalho, colocamos a ideia de um vírus que dizimaria a população mundial, e a trama aconteceria 200 anos depois, quando o mundo que conhecemos fisicamente deixaria de gerar experiências e nós passaríamos a existir como avatares em um ambiente digital. Totalmente distópico e irreal, portanto. Porém, à medida que o tempo foi passando, apareceu essa pandemia da Covid19 e o mundo mergulhou, sem expectativas, num espaço onde a humanidade se colocava em xeque. Mais real do que ficção, portanto. E tudo o que veio a partir disso é o que estamos vivendo hoje.

Eunoteatro – Vocês já pensaram em levar a trilogia para os palcos físicos, pós pandemia, isso seria tecnicamente possível?

Ivam Cabral – Sim, pensamos. Inclusive, vislumbramos muitas outras coisas, também. “A Arte de Encarar o Medo”, por exemplo, está sendo vertida para o cinema, em um longa-metragem que contará com a participação de artistas de vários países pelo mundo, entre África, Europa e Américas do Sul e do Norte. A peça também terá uma montagem internacional, a partir da Índia, que estreará em julho, no Good Theater Festival, em Calcutá. Enquanto isso, seguimos com apresentações em nosso Espaço Digital dos Satyros, na plataforma Sympla. Até que tenhamos controle sobre a pandemia e os teatros voltem a funcionar normalmente.

Eunoteatro – As peças digitais dos Satyros tem sido um sucesso de público e crítica, o que nos leva a querer sempre mais, teremos a sorte de contar com mais projetos como estes ainda para este ano?

Ivam Cabral – Sim, o ano está apenas começando, né? rs Temos, ainda, que transpor para o território digital vários espetáculos nossos, como “Pessoas Perfeitas” e “Pessoas Sublimes”, por exemplo. E também tenho um solo novo, “1991 ou a Imperfeição do Amor”, que deve entrar em cartaz em algum momento, durante este ano.


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Fonte: Eu no Teatro,

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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