E já que estamos anunciando que nosso trabalho, “De Quanto Amor Precisa uma Pessoa”, está em processo e vem sendo construído juntamente com o público que tem comparecido ao Espaço dos Satyros, penso que vale uma pequena reflexão sobre o que aconteceu ontem na sessão da peça.
O teatro é um jogo vivo. Vissíssimo, aliás. E não é todo dia que a gente vence. Tem dias em que a gente perde a partida. E a de ontem, perdi completamente. Triste porque estavam na plateia pessoas que eu respeito muito e acho que mereciam ver um espetáculo menos confuso.
Acontece que, antes da minha apresentação, o Espaço dos Satyros recebe o núcleo jovem da companhia que, neste momento, apresenta a peça “Fluxo”, com uma energia completamente oposta à do meu trabalho.
Ontem, cheguei ao teatro uma hora antes da minha apresentação e todo o espaço estava tomado por uma energia incrível, algo próximo de euforia. Porque, além da sessão de “Fluxo”, que é um trabalho intenso e de uma potência master, os atores do nosso Núcleo Experimental, que irão estrear logo no início de janeiro, estavam trabalhando na confecção de figurinos e adereços da peça deles.
Não, definitivamente, toda essa explosão energética não combina com a carga de emoções do meu trabalho. Ou pelo menos até onde chegamos; pode ser que sim, que nasça alguma coisa explosiva e dinâmica, mas os materiais que recolhemos até agora não indicam que “De Quanto Amor Precisa uma Pessoa” possa vir a ser um trabalho ágil ou exultante.
Assim, quando a porta do meu trabalho se abriu e o público começou a entrar, percebi que estava muito desconcentrado, com a sensação de que havia pulado algumas etapas, mas já não dava para fazer mais nada.
Trinta e cinco anos de carreira e a gente ainda cai nas armadilhas mais elementares. Mas ok, o teatro também é o lugar onde recebemos uma segunda chance. Hoje, mais uma vez, as portas do Espaço dos Satyros se abrirão para me receber e eu terei a chance de refazer o meu trajeto. E será lindo, amém!
PS: Quase me esqueço. Ontem, recebi da plateia uma declaração de amor: um “eu te amo”, vindo baixinho, quase em sussurro, de um espectador muito especial na primeira fileira. Coração quentinho aqui…