DIÁRIO DE BORDO | Curioso se não fosse trágico

Março de 2018. A SP Escola de Teatro está em polvorosa, vamos receber Davi Kopenawa, o líder indígena Yanomami que veio a São Paulo e que, entre um compromisso e outro, reservou algumas horinhas para falar conosco.  Um tempo concorrido porque depois dessa conversa o xamã vai pegar o avião de volta à sua aldeia, na região da Serra do Demini, onde nasceu, na fronteira entre Amazonas e Roraima com Venezuela. 

A conversa com o principal líder indígena brasileiro transcorre de maneira apaixonada. Quando, enfim, chega o momento de finalizar o encontro, um de nossos aprendizes quer fazer uma última pergunta. Mas não há mais tempo, nosso convidado está atrasado. Na insistência, conseguimos que uma última questão fosse formulada:

– Pajé, como vocês lidam com a questão da homoatividade?

Burburinho. Há uma certa dificuldade para explicar a Kopenawa o sentido daquela pergunta. Depois de algumas tentativas, o líder dos Yanomami parece ter captado a interpelação. 

– Ah, vocês estão falando de gays? Lá, não tem esse negócio, não. E quando aparece, a gente mata.

Silêncio constrangedor, enquanto o convidado deixa a nossa instituição.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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