Embora o tempo todo eu sinta que existe um embargo em torno do Satyros – há anos, não conseguimos nenhum apoio contínuo para o nosso trabalho e, recentemente, a questão da proibição de nosso espetáculo “Edifício London” tenha causado um certo constrangimento na classe artística –, o meu lado político – sim, é esta a palavra mesmo – me faz reunir, cada vez mais, forças para continuar lutando.
Eu não vim ao mundo para brincar. Nem para resolver os meus problemas. Estes, teriam sido resolvidos há muito, muito tempo. Faço o teatro que faço para fazer história. Meu ego, admito, é grande, muito grande. Já disse e afirmo: não quero mudar a minha vida; quero, sim, mudar o mundo. Existe coisa mais egóica que isso? Pois.
Sei, não me iludo e sempre soube. Venho, há anos, matando a possibilidade de construção de uma grande companhia de teatro para me dedicar à estruturação de um mundo mais solidário. A SP Escola de Teatro nasceu desta provocação.
Mas não é justo colocar neste balaio os sonhos dos outros. Quando vejo, só para dar um pequeno exemplo, que Phedra de Córdoba paga um preço alto por isso, meu coração se despedaça. Uma artista como ela que, aos 70 e tais anos, ainda não conseguiu estabilidade, é fato grave, gravíssimo.
E Phedra não está no mundo para brincadeira, não. Sua condição de permanecer no Satyros é puramente ideológica. E, sim, política também. Muitos, muitos grupos a convidaram para atuações em seus trabalhos. E nossa Phedra, sempre fiel aos seus princípios.
Sim, falo dos editais do Fomento, do Myrian Muniz, da Petrobrás e etc. E me entristeço. Até quando?
Por outro lado, há muito o que aprender com a vida. Sigo crente e vou em frente. E ainda com esperança. Muita esperança.