O tempo passa muito rápido. Já estou entrando no segundo mês em cartaz com meu solo Todos os Sonhos do Mundo, em modo digital, através de live no meu Instagram. Hoje farei minha 24ª sessão. E, na apresentação de ontem, mais de 800 pessoas assistiram ao trabalho. Não é realmente surpreendente tudo isso?
Penso muitas coisas a respeito desta história. A começar, de onde vêm estas pessoas, tantas? Quem são elas? Em um momento em que a nossa profissão tem sido espezinhada, onde nos sobra tão pouco, resistir e pensar no futuro dá um certo nó na garganta. Tão efêmeros todos nós.
Por outro lado, o lindo de tudo isso é perceber que uma sessão de teatro, em tempos digitais, não termina quando finalizamos nossas transmissões. Em minha caixa de mensagens começam outras histórias e, talvez, este seja o grande aprendizado deste momento. Histórias de solidões, de superações também, tão parecidas com as minhas. E novos mundos se descortinam e a vida até parece fazer algum sentido.
Sou grato por trilhar este caminho. Nem menos, nem mais pesado que tantos outros. Mas singular, diferente, estranho também. Parece até que eu estava no lugar certo, na hora certa. A vida tem disso. Às vezes a gente se descobre potente, mesmo com nossas fragilidades. Foi assim, talvez, quando conheci o Rodolfo, 31 anos atrás, e pensamos no Satyros. Ou quando um grupo de sonhadores, lá atrás também, 12, 13 anos antes, se juntou pra pensar um projeto de formação, que resultaria na SP Escola de Teatro. Nestes dois casos eu sinto que estava no lugar e hora certos. Agora novamente esta sensação.
Eu nunca tinha pensado em fazer um trabalho solo, já falei sobre isso umas tantas vezes. Pra mim e no Satyros, o teatro sempre foi um jogo coletivo, com muitas, muitas pessoas. Nossos elencos sempre foram enormes. Mas quis o destino que neste momento de isolamento social eu estivesse justamente trabalhando solitariamente. Mais curioso: quando pensamos neste trabalho, eu e o Rodolfo, não quisemos trazer para ele a teatralidade tão presente em todos os nossos trabalhos até aqui. Nem luz, nem som, nem figurino e nem teatro também. Ao trabalhar com a autoficção, levamos a montagem para salas de aula, quadras esportivas e até bares. Um espaço teatral com as especificidades do teatro, portanto, não seria exigência para a realização deste trabalho. Vejam que curioso!
Então, chegar na frente de um celular e fazer uma transmissão digital, não sabíamos, mas já fazia parte do processo de encenação deste Todos os Sonhos do Mundo. E assim tem se cumprido. De sexta a domingo, pontualmente às 21h, ligo a câmera do meu celular e lá vamos nós para uma das aventuras mais radicais da minha vida.
Não estou preocupado em definir o que está acontecendo. Se é ou não é teatro, não me importa. Estou cumprindo a máxima que o menestrel das Minas Gerais nos ensinou: “todo artista tem de ir aonde o povo está”.