Prefácio
Letícia tem apenas 25 anos e múltiplas qualidades. Em seu currículo, a direção de um longa-metragem, vários curtas, um livro de poesias, além de atuações em filmes, como roteirista, editora, montadora etc.
Conheço Letícia há uns anos, quase cinco. E, curiosamente, neste primeiro encontro, já tivemos a poesia entre nós. Não sei exatamente porquê – nem se ela se lembra disso –, mas naquele dia estava com os três volumes das obras completas de Jorge Luis Borges em mãos. Só não recordo se lemos algum poema naquela noite. Sim, era noite, disso me lembro muito bem. Talvez verão.
Enfim, a partir daquela noite, ficamos próximos. E biografia e obra foram se revelando juntas. Não só me deparava com uma poeta absolutamente potente, mas com uma mulher singular.
A Letícia poeta não se revelava somente através de seus versos no delicado – e lindo – Pessoas de quem eu roubei frases, lançado pela 7 Letras em 2011, mas através das imagens de seus filmes e também pelos nossos encontros, que foram se tornando cada vez mais frequentes.
Ter uma conversa com Letícia é iluminar-se, encher-se de poesia e vontade de produzir arte. De seus olhos, o tempo todo, brotam sonhos, novos projetos, futuro. Não à toa, este daqui, em 1976, acenei pra você nasce em um momento onde a autora, baiana, troca o Rio de Janeiro por São Paulo.
Porque, não se iludam, embora tristes e, vez ou outra melancólicos, os poemas – e os filmes e as peças de teatro e a própria vida de Letícia – nos apontam o futuro. Detectam uma vida que se repagina com a insipidez de seu trajeto, ora normalíssimo e ordenado; ora tempestuoso e absolutamente desregrado. Exatamente como sua poesia.
daqui, em 1976, acenei pra você é para se ler em voz alta. Em “Poema Amorfo”, por exemplo, quando ela inquire “quais navios / tomaram aquelas palavras?” é para se recitar aos berros. E só voltar à leitura mais serena quando, mais adiante, encontrarmos a afirmação de que “o meu caos vem com a arrebentação”.
Este daqui, em 1976, acenei pra você também não deve ser lido uma única vez, não. Porque corre-se o risco de o leitor perder o fôlego. E, em poesia, isso nunca é aconselhável. É leitura para se ter no bolso, nas costas, no ombro, no corpo todo. É livro que se adquire para ser decorado e recitado numa noite de boemia na Praça Roosevelt ou na Rua Augusta, em São Paulo; ou na Lapa, no Rio; ou no Rio Vermelho, em Salvador. Quiçá, para se ter como um segredo guardado a sete chaves.
Ivam Cabral
Ator e dramaturgo
Olá, me chamo Lays Milene e o título do volume chamou minha atenção. Moro em Belém – PA, e há aqui um prédio histórico chamado Solar da Beira, onde numa das paredes externas tem a inscrição “Daqui, em 1976, acenei para você”. Li o prefácio e vi menção a Bahia, Rio e São Paulo, mas nada sobre Belém. Da onde viria essa frase? Nunca a li em outro lugar senão na parede do prédio antigo e agora, nesse título.
Fiquei com a mesma dúvida, visto que a frase foi escrita no Solar em meados de 2010 e o livro é de 2013.