Então ontem, no final da tarde, eu estive no píer para ver, mais uma vez, o pôr do sol. Afinal, o de anteontem não fora o último. Mas meu amigo não apareceu…
Pensei muitas coisas. No privilégio da minha contemplação, na possibilidade de nunca mais encontrar o meu amigo, na alternativa daquela ser a minha última vez…
Não faço agora nenhuma análise otimista sobre qualquer dessas viabilidades. Não interessa porque viver pode ser tanto a alegria do Chico – que, enquanto escrevo, vem toda hora aqui me trazer seu brinquedo vermelho para que eu o arremesse e ele vá apanhá-lo –, quanto a tristeza e o cansaço nos olhos do meu amigo com o coração cansado e que está se despedindo deste planeta.
Não existe plenitude nem em um, nem em outro cenário. Bonito é amanhecer sem ter a certeza de absolutamente nada e imaginar que seus olhos poderão encontrar outros olhos – alegres ou tristes, não importa – como os seus.