Acontece toda vez que estou em casa, no meu quarto, e o Rodolfo chega com a Cacilda e o Chico. Toda vez os dois entram correndo, num galope mesmo, vão até o meu quarto e se jogam na minha cama, em cima de mim. Fazem isso mesmo que eu não esteja em casa. E quando isso acontece, é, como vocês devem imaginar, uma tristeza.
Neste momento estou em Mindelo, Cabo Verde, na África. Muito longe. Acabei de ligar pra casa e falei com a Lu, que cuida da nossa vida há quase quinze anos e que ama nossos bichos. Têm mais bichos do que gente em casa. Atualmente, dois bichanos e dois cachorros dividem conosco um apartamento.
Têm plantas em casa também. Muitas. Os xodós são as avencas e samambaias. As avencas, herança da minha mãe; as samambaias, uma delas ganhei do meu irmão Dimi, outra, do João Silvério Trevisan. Mas existem muito mais: um limoeiro, uma jabuticabeira, uma romãzeira, um ibisco, vários antúrios, lírios, orquídeas, violetas, flores de maio e muitas outras.
Há pouco, liguei pra falar com a Lu e saber como estão os bichos e as plantas. Normalmente sentem a minha falta. Tenho histórias engraçadas. É comum, por exemplo, ter que ficar adulando o Blangis, meu bichano mais velho, que fica magoadíssimo quando viajo. Sempre no meu retorno ele me evita por uns dias e faz xixi pela casa toda. Toda vez. É comum também as avencas sentirem a minha falta.
Então Lu me conta que quando viajei, tirou toda a roupa de cama do meu quarto e levou pra lavanderia. Hoje, ao chegar em casa de manhãzinha encontrou o Chico, nosso labrador, dormindo em cima dos lençóis e edredom, na lavanderia. Detalhe muito, muito importante: a lavanderia e cozinha são redutos proibidos para os cães de casa, sítio onde os gatos fazem suas refeições (cozinha) e onde têm seus banheiros (lavanderia).
Mas sem mim no apartamento e provavelmente porque queria o meu cheiro, Chico desobedeceu as leis de anos.
Minha vida, além de um carnaval sempre fora de época, é também cheia de ternura…