Vocês não têm a impressão de que deixaram suas vidas lá fora?
Essas reprises na TV, esses filmes requentados. Os jogos de futebol de um tempo tão distante… As notícias que chegam de amigos que você não abraçou e que, de repente, já não estão mais aqui…
E toda essa incerteza de um governo horroroso, de uma secretária especial da cultura que parece estar zombando da gente. Suas publicações no Instagram são de uma crueldade que beira o sadismo. A digníssima secretária não legitima e clama pelo final do isolamento. Agora, quem vocês acham que ela e o presidente querem que voltem ao trabalho? O povo, sempre ele, que continuará se ferrando, se espremendo nos ônibus e metrôs do país, enquanto os mais poderosos irão se movimentar com seus carrões fantásticos e suas máscaras de proteção bordadas a ouro (sim, já vi propaganda destes produtos, pasmem).
O que faremos com estas propagandas na TV ensinando nossos irmãos a lavarem suas mãos, quando sequer têm água e sabão em suas residências? Eu disse mesmo “residências”? Socorro!
E o silêncio diante das mortes de artistas fundamentais da cultura do nosso país, que correram nos últimso dias? O que isso significa? Que recado querem nos passar?
Como posso ver a minha classe, a dos artistas, meus iguais, passando por dificuldades tão básicas? E essas manifestações por todo o país contra a democracia e a Constituição? Cadê o Ministro da Justiça? Calado, como a secretária de cultura, postando seus gatilhos em suas redes sociais.
E os nossos indígenas, morrendo pelo Codiv19 no Dia do Índio? E essa explosão de feminicídios durante essa pandemia? E a Ministra da Mulher e da Família calada!
Enquanto isso, o flautista de Hamelin tocando sua flauta pelo despenhadeiro. Estaremos condenados ao precipício, enquanto nossas vidas descansam lá fora? Esperando o que, meu Deus?