Adeus, Evinha

Eva Wilma foi minha professora em Curitiba, quando eu tinha 20 anos. Acho que foi a pessoa mais elegante que conheci na vida. E uma das atrizes mais extraordinárias também.

A gente a chamava de Evinha, mas o sonho era um dia trata-la de Vivinha, o que significava grau máximo de intimidade. Que, aliás, a Lúcia Camargo tinha. Lucia era das felizardas que dividia intimidades com a amiga.

Assim, através da Lúcia, minha relação com a Evinha se manteve até recentemente. Falávamos sempre em um chá, em um final de tarde, que nos reuniria, mas que nunca aconteceu. E a Lúcia sempre brincava comigo:

— Pra Evinha virar Vivinha pra você só falta este chá.

Sonhei com isso muitas vezes. Mas não deu tempo de selarmos essa intimidade porque a Lúcia se foi no ano passado e, agora, a nossa Evinha, que jamais será Vivinha para mim. Que triste. Só faltou um chá da tarde. Só um.

Mas não tem problema. Sempre soube que ter chegado bem próximo desta intimidade já me colocava num lugar de privilégio. Porque, todos sabemos, foi uma das mulheres mais incríveis que habitou este planeta. Vai fazer falta, muita falta. Porque o teatro brasileiro perdeu um de seus maiores ícones…

*** A foto, passeata de artistas de teatro contra a censura em 1968: as atrizes Tonia Carrero, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Bengell e Cacilda Becker | Gonçalves/CPDoc JB
Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
Post criado 1725

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Posts Relacionados

Comece a digitar sua pesquisa acima e pressione Enter para pesquisar. Pressione ESC para cancelar.

De volta ao topo