Jards Macalé, gênio da nossa música popular, lançou um dos melhores discos do ano passado, “Besta Fera”, seu primero álbum de inéditas, em 20 anos.
Curiosamente, o carioca concebe um disco com sonoridade paulistana. Semelhante ao que aconteceu com a também carioca Elza Soares, que nos últimos anos tem trabalhado com músicos de São Paulo.
Já na primeira faixa deste “Besta Fera”, a canção “Vampiro de Copacabana”, de Kiko Dinucci e do próprio Macalé, por exemplo, recria um Rio de Janeiro com cara e clima paulistanos. A partir daí, o flerte de Macalé com a obra de Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé se torna bastante evidente.
Para um artista que nasceu no bairro da Tijuca, no Rio, e passou grande parte da sua vida em Ipanema, flertando com as sonoridades dos morros cariocas, o resultado deste trabalho é bastante surpreendente.
“Besta Fera” traz doze faixas e soa como um autorretrato do cantor e compositor, que divide os vocais do disco com Tim Bernardes, Juçara Marçal e Rômulo Fróes. Não apenas a sonoridade do disco flerta com a contemporaneidade. Algumas canções trazem letras bastante conectadas com o nosso tempo atual; politico, inclusive.
Jards Macalé, filho de uma pianista – que também cantava –, com um acordeonista, é multi-instrumentista. Estudou piano e orquestração com Guerra Peixe, violoncelo com Peter Dauelsberg, violão com Turíbio Santos e Jodacil Damasceno, e análise musical com Esther Scliar.
Sua estreia profissional aconteceu no teatro, com o Grupo Opinião, em 1965. Também neste período, assinou a direção musical dos primeiros espetáculos de Maria Bethânia. Como compositor, foi gravado por Caetano Veloso, Zeca Baleiro, Nara Leão, Gal Costa, Elisete Cardoso e Gilberto Gil. Como intérprete, seu primeiro registro é de 1969, o compacto “Só Louco”. Seu primeiro álbum, no entanto, só surgiria em 1971, o excelente “Jards Macalé”.
Macalé tem um carreira curiosa. Compôs trilhas para teatro e atuou, também, como ator nos filmes “Amuleto de Ogum” e “Tenda dos Milagres”, ambos de Nelson Pereira dos Santos, para os quais assinou suas trilhas sonoras. Ainda no cinema e como compositor musical, compôs trilhas para filmes importantes, como “Macunaíma”, de Joaquim Pedro de Andrade, “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, de Glauber Rocha e “Se Segura Malandro”, de Hugo Carvana, entre outros.