A VELHA NOVA HISTÓRIA
por Ivam Cabral
Minha relação com a Praça Roosevelt sempre foi intensa. O local sempre foi um dos meus redutos de diversão e ocupou o meu imaginário. Quando, no final dos anos 1980, saio de Curitiba pra vir viver aqui, pelo menos três lugares na Roosevelt me eram inspiradores: o Cine Bijou, a boate Cais e o Corsário, um bar gay decadente.
Em meados do ano 2000, decidimos aportar na Praça e sua degradação primeiro assustou; depois, instigou. Entre sustos e sobressaltos de toda ordem, insistimos em fincar pé no terreno que mais amedrontava do que atraía.
É pura teimosia, diziam uns; perseverança, afirmavam outros, mediante nossa militância – política, sim – de insistir em viver numa rua deserta.
Gosto de pensar que a grande revolução, no entanto, aconteceu com uma mesinha e algumas cadeiras na calçada. Não há projeto estético que substitua a experiência real. Porque, sempre soubemos: a nós, artistas, cabe a parte mais chata da brincadeira: limpar a sujeira da sociedade e depois ser varrido junto com ela.
Tem sido assim em outros lugares do mundo. Manhattan descobriu o Village e o Soho a partir do trabalho de artistas geniais como Andy Warhol e todo o pessoal do Velvet Underground. Ou Lisboa, que, a partir da Expo 98, revitalizou toda a área oriental junto ao Tejo, transformando a região num centro econômico potente.
Assim, quando me pedem pra falar da nova Praça, me ocorre lembrar que os processos de urbanização obedecem praticamente ao mesmo padrão sempre. Não foi diferente em Nova York nem em Lisboa, não será diferente aqui. E isso não tem a ver com gestões políticas. É o deus Mercado comandando sempre com seu pulso impiedoso. A nós, a resistência. Só ela.