Fui eu quem tirou essa foto aí. Dia 12 de maio de 2010, exatamente no dia em que conheci a Cacilda. Mal sabia que nesse exato momento estaria registrando uma das personagens mais importantes da minha vida.
No início daquele maio de 2010, eu estava em Paris. Andrea Matarazzo era o secretário de cultura e havia recebido um convite para viajar à França. Como não poderia ir, me pediu que fosse em seu lugar. Foi num telefonema de Paris para a SP Escola de Teatro, que fui informado de que uma cachorra havia surgido na escola para dar à luz a seis filhotes, num espaço cheio de entulho, no terreno da instituição. Me lembro, como se fosse hoje, que não vi com bons olhos aquela história – até então, não tinha nenhuma relação com cachorros.
Quanto retornei ao Brasil e conheci aquela jovem senhora com seus filhotes, fiquei apreensivo. Não, não foi paixão à primeira vista. Mas já não podia fazer mais nada. A escola inteira já estava apaixonada pela cachorra e seus rebentos. Decidiu-se, meio contra a minha vontade, que cuidaríamos da Cacilda – sim, nesse momento ela já tinha ganhado esse nome, a partir de uma votação entre funcionários e estudantes da escola.
Fiz uma exigência, no entanto. Que arrumássemos adotantes para os filhotes. E assim foi. Por mais de dois anos, Cacilda viveu na escola, sendo cuidada e paparicada por todo mundo. Mas quem é de todo mundo, acaba não sendo de ninguém. Porque no meio do caminho apareciam feriados, natais, férias… E a bichinha ficava sozinha.
Nesse período, eu tinha perdido a minha mãe e vivia um momento dificílimo com a minha depressão. Me afastei do teatro e descobri Parelheiros. Foi uma época de muita, muita solidão. Tempo em que Cacilda se tornou uma das figuras mais importantes da minha vida inteirinha.
No último dia do ano de 2012, Chico apareceu em nossos mundos. A partir deste dia, eu nunca mais ficaria sozinho. Roubei a Cacilda da escola e passamos, juntamente com o Chico, a dormir no mesmo quarto, a fazer nossas refeições juntos, a passear juntos. E nunca mais encontrei limites entre o amor e a vida. Eu havia descoberto o amor incondicional.