NA MÍDIA: ARTE NA RODA

Da esquerda para a direita: Aimar Labaki, Ivam Cabral, Marici Salomão, Luís Alberto de Abreu e Maria Shu (Foto: Arquivo SP Escola de Teatro)

por: Jéssika Lopes

Aimar Labaki, Ivam Cabral, Luís Alberto de Abreu e Maria Shu. Esses foram os convidados da primeira Roda de Conversa do ano, promovida pela SP Escola de Teatro – Centro de Formação das Artes do Palco, no último sábado (28). A discussão, mediada pela coordenadora do curso de Dramaturgia da Escola, Marici Salomão, girou em torno do tema “O Dramaturgo na Sala de Ensaio”.

Assim como na última Roda de Conversa de 2011, o debate será transcrito para a segunda edição da revista A[L]BERTO, publicação da SP Escola de Teatro cujo primeiro e segundo números foram coordenados pela professora e pesquisadora Silvana Garcia, que também acompanhava o evento.

Às 10h, os interessados já se encontravam no local onde os cinco artistas discutiriam sobre as formas de criação textual e o dilema que existe sobre o processo de criação colaborativo. Além disso, foi abordada a relação de trabalho entre ator, diretor e dramaturgo, o teatro de gabinete e da sala de ensaio, bem como o futuro da dramaturgia no Brasil e no mundo.

A primeira pergunta de Marici aos convidados foi sobre como se dava o processo de criação dramatúrgico de cada um. Maria, que fez parte do primeiro grupo de aprendizes a concluir o ciclo de quatro Módulos da Escola, respondeu enfaticamente. “Qualquer coisa que tenha relevância para mim se transforma em algo instigante para que eu escreva.”

Labaki, por sua vez, disse que escreve assim que acorda e admitiu: “Às vezes, eu escrevo ‘para fora’, pois tenho que pagar as contas; outras, escrevo ‘para dentro’, relatando os meus pensamentos”. Entre as respostas, emergiu a de Ivam Cabral, diretor executivo da Escola, que garantiu que gosta de se basear em outras pessoas para criar seus próprios escritos. “Eu sou um assaltante de histórias. Gosto de ‘roubar’ frases de outras pessoas que me inspirem de alguma forma.”

Arte é Dialogia

Partindo da mesma premissa que Ivam Cabral, Abreu afirmou que por mais que se esteja sozinho escrevendo, o processo de criação é sempre colaborativo. “Nós estamos em um constante diálogo com os autores do passado e com a relação que temos com outras pessoas.” E Marici completou: “Na verdade, o texto, ainda que não colaborativo, é coletivo. Isso é teatro”.

Na opinião de Maria, conhecer o passado é importante não só para conseguir ter seu próprio estilo de escrita, mas, também, para inovar. “Só se pode desconstruir algo quando se conhece a base, o antigo.”

Como funciona a relação entre dramaturgo – ou dramaturgista – e o ator foi outra das questões em pauta. “O texto estrutural é o dramaturgo quem faz. A execução destas ações organizadas fica por conta do ator”, sintetizou Abreu.

Ivam Cabral, que é ator e dramaturgo, deu sua visão sobre o assunto. “É importante que haja essa troca entre os profissionais envolvidos em determinada peça. Um ajuda o outro na criação e no desenvolvimento do enredo, ajustando-se, claro, à ideia do diretor.”

Teatro de Gabinete x Sala de Ensaio

O bate-papo entre os cinco convidados ainda abarcou uma das questões mais discutidas no universo dramatúrgico: o teatro de gabinete e da sala de ensaio. Ivam explicou, de forma simples, a sutil diferença entre eles. “O de gabinete é quando o escritor está sozinho com seus pensamentos; na sala de ensaio, ele está inserido num coletivo. Nessa transição do primeiro para o segundo, coloca-se um “s”, tudo vira plural”, brincou.

Para Abreu, o texto colaborativo, como se tem na sala de ensaio, é uma resposta à forma unidimensional de se fazer teatro que era imposta antigamente. Ainda falando de produções textuais, Marici quis saber, de Maria, qual era, a seu ver, a principal diferença entre texto literário e texto cênico. “O primeiro é puro, o segundo, híbrido, pois se utiliza de outras linguagens, como, por exemplo, a dança e a música, para ser apresentado”, explicou.

Em meio a tantos assuntos, outra questão foi levantada: qual é o destino da dramaturgia, na opinião dos convidados? Todos concordaram com a resposta de Abreu, que disse que o segredo está na versatilidade. “Não adianta se especializar em algo. Se, daqui a um tempo, isso que você se dedicou não existir mais, você já era. Se agora estamos numa fase em que se explora o uso das mais diversas mídias no teatro, temos que saber. Devemos fazer de tudo um pouco e acompanhar as novidades do mercado.”

O Público Pergunta

Os últimos 30 minutos de Roda de Conversa foram destinados às perguntas do público presente.

Yuri Lima, candidato que aguarda o resultado da segunda fase do Processo Seletivo de Dramaturgia, previsto para ser publicado na próxima segunda (6), neste Portal, quis saber como se dava o processo de criação de texto na sala de ensaio, especificamente. Maria respondeu com base no processo de criação dramatúrgica de “Cabaret Stravaganza”, espetáculo dirigido por Rodolfo García Vázquez, também coordenador do curso de Direção da Escola, que está em cartaz em São Paulo, até o final de junho. “No meu caso, minha inspiração foram os próprios atores, que criavam suas cenas e me apresentavam. A partir delas, adequei ao formato que o diretor quis e escrevi a peça.”

Marici agradeceu a presença de todos e, na saída, cada participante recebeu a primeira edição da Revista A[L]BERTO, lançada em dezembro do ano passado. A Roda de Conversa foi o primeiro de muitos encontros que serão promovidos pela SP Escola de Teatro ao longo de 2012, buscando, sempre, o diálogo e a troca de informações sobre as mais diversas áreas ligadas ao teatro.

Fonte: Portal da SP Escola de Teatro, 30 de janeiro de 2012

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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