INFERNO NA PAISAGEM BELGA, POR AIMAR LABAKI

"Inferno na Paisagem Belga": extraordinária capacidade de construir o belo com quase nenhum recurso material (foto: Andre Stéfano)

Há espetáculos que causam um grande impacto à primeira vista. Há outros que crescem depois, ao longo dos dias. Idéias, imagens, momentos voltam e com eles o que se viu vai ganhando outro tamanho.

É o caso de “Inferno na Paisagem Belga” dirigido por Rodolfo García Vázquez, com esse ator ímpar que é Ivam Cabral. Algumas das fragilidades do projeto de Rodolfo ( que lembram, em grande medida, as mesmas do projeto de Zé Celso) e algumas das armadilhas que ele mesmo se prepara estão ali.

Mas estão também uma extraordinária capacidade de construir o belo com quase nenhum recurso material, de tratar da exclusão sem romantizá-la, de incitar ao pensamento e à ação sem ser catequético e, principalmente, de revisitar assuntos já demasiado conhecidos ( Rimbaud e Verlaine, só para ficarmos na nossa dramaturgia, já estão lindamente recuperados em “Pólvora e Poesia” de Alcides Nogueira) revelando temas inesperados.

Rodolfo está no meio de um processo que ainda não produziu uma “grande obra”, quase nenhum processo interessa ao espectador comum – e , no entanto, essa obra em aberto é mais bela e muito mais interessante que grande parte da obras acabadas que atravancam nossos 3.000 “espaços teatrais”.

Ator, roteirista e cineasta. Co-fundador da Cia. Os Satyros e diretor executivo da SP Escola de Teatro.
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