Eu gosto de pessoas. Eu gosto muito de pessoas. Acho que comecei a fazer teatro porque queria estar perto das pessoas. Tímido desde sempre, precisei me municiar de alegria e coragem pra enfrentar o mundo. Foi o teatro quem me forneceu esta munição.
Então duas amigas suecas queridas, em algum momento, quiseram que eu e o Rodolfo escrevêssemos um texto para elas. Foi muito rápido o processo. Como eu gosto de pessoas, achei que tínhamos que fazer isso. E fazer rápido, antes que elas mudassem de ideia.
As duas amigas suecas, que vivem em Estocolmo, chamam-se Ulrika Malmgren e Katta Pålsson. Trabalham juntas há muitos, muitos anos. Fundaram uma companhia de teatro, a Darling Desperados, lá nos idos dos anos 1990, que fez muito sucesso. Há um tempo já, não tem produzido um novo trabalho.
Nem sei direito se essas amigas queriam um texto pra valer ou apenas para um pequeno exercício. Mas como eu gosto de pessoas, achei que um exercício não bastaria. Então levei muito a sério a encomenda delas e mergulhamos – eu e o Rodolfo – em um projeto, mais que em uma simples história.
Assim. Enquanto escrevíamos o texto, pensei: se essa peça começasse a voar, se esse texto tomasse rumos mais concretos, talvez a gente pudesse transformar a história que era só um exercício em uma experiência que fosse maior que nós todos juntos. Para isso, nesse jogo, precisávamos ganhar mais força; mais pessoas deveriam entrar na história, portanto. Afinal, já disse, eu gosto muito de pessoas.
O texto que, afinal, ficou pronto e que recebeu o título de “Anna, Você Pode Ficar”, foi, então – depois de mostrado às atrizes suecas, obviamente –, apresentado a uma atriz portuguesa, a Luisa Pinto, que gostou da brincadeira. O desafio: que a peça fosse montada também em Portugal, além da Suécia.
Mas antes, ainda, enquanto eu e o Rodolfo escrevíamos o texto, durante o nosso processo de escrita da peça, eu estava no Twitter – porque eu gosto de pessoas, gosto de redes sociais também – e falei lá alguma coisa sobre o nosso procedimento de escrita. A Patricia Pillar estava por ali e interagiu comigo. Não perdi a oportunidade e fiz uma provocação a ela. Algo como “que tal vir brincar com a gente?”. E a Patricia, talvez porque goste de pessoas também, topou vir brincar conosco.
A brincadeira, até agora, ficou assim: na Satyrianas, teremos a leitura de “Anna, Você Pode Ficar” em duas versões: uma com as atrizes suecas, Ulrika e Katta, que vêm da Suécia especialmente para esta brincadeira; outra, com uma atriz portuguesa, a Luisa, e uma brasileira, a Patricia.
Patricia não atuará na montagem portuguesa, infelizmente. Não temos produção para isso. Luisa levará o projeto com outra atriz, provavelmente do Porto, onde vive. E a montagem brasileira, se acontecer, terá que encontrar duas novas atrizes. Mas como a gente gosta de pessoas, é provável que este encontro ocorra naturalmente. Como todos os encontros deveriam ser, naturais.