Lançado há exato um ano pela Editora Giostri, com tiragem de 1.000 exemplares, o livro Todos os Sonhos do Mundo, de Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez, ganha segunda edição.
Histórias pessoais, poemas e reflexões compõem o texto da obra, fazendo um retrato sensível e aberto sobre um tema ainda tabu no Brasil, a depressão.
O mote disparador para a obra foi a depressão que acometeu Ivam Cabral a partir do início dos anos 2000. Relutante, no princípio, em aceitar a doença e buscar tratamento adequado, o ator e dramaturgo encontrou uma ajuda essencial em um livro, O demônio do meio-dia, de Andrew Solomon.
No volume, indicado por um colega, o crítico e jornalista de teatro Michel Fernandes, vislumbrou uma saída. Com o livro em sua cabeceira, e o tratamento médico e terapêutico apropriado, passou a revisitar suas experiências de vida e os personagens que cruzaram seu caminho.
A mãe com sua alma melancólica, o tio que se tornou um ermitão, os últimos dias do irmão e melhor amigo, a história surreal e subversiva da Jane peidorreira, narrativas profundamente humanas que se transformariam, mais tarde, na base dramatúrgica do espetáculo solo que apresenta desde 2016 em diversas cidades do país.
A ideia para a performance começou a tomar corpo em 2014, momento em que Ivam Cabral estava lendo bastante poesia. Sem jamais ter atuado em um monólogo antes, ele e Rodolfo García Vázquez começaram a elaborar uma montagem solo multifacetada, com aspectos líricos, dramáticos e performativos. De cara limpa, Ivam Cabral estaria em contato direto com o público, contanto essas histórias duras, mas saborosas, permeando-as com a leitura de poemas, sobretudo de autores que se suicidaram ou também sofriam com depressão.
Fazem parte do livro poemas do autor decadentista Mário de Sá-Carneiro e da ícone feminista Florbela Espanca, ambos portugueses de alma complexa que terminaram seus dias com o suicídio, assim como escritos dos brasileiros Mario Quintana e Olavo Bilac.
De grande novidade literária, contudo, são alguns poemas pela primeira vez traduzidos e publicados em livro no Brasil, caso dos escritos dos russos Serguei Iessienin e Aleksandr Blok. Constam no volume, ainda, poemas e versos de Rainer Maria Rilke, Konstantinos Kaváfis e Alfonsina Storni, vertidos por Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez a partir do original ou de outras versões.