A SP Escola de Teatro é a escola que eu gostaria de ter estudado. Digo isso sem medo de exagerar, porque foi justamente a partir dessa pergunta – “que escola você gostaria de ter estudado?” – que tudo começou.
Naquele tempo, quase vinte anos atrás, éramos um grupo de sonhadores: Alberto Guzik, Cléo De Páris, Guilherme Bonfanti, Hugo Possolo, Marici Salomão, Raul Barreto, Raul Teixeira, Rodolfo García Vázquez, J.C. Serroni e eu. Nos reuníamos para desenhar, quase à mão livre, uma escola que fosse gratuita, horizontal, moderna. Uma escola que escapasse dos moldes coloniais, que não precisasse começar sua narrativa pela história europeia, mas que buscasse, ao contrário, uma identidade nossa, nascida do nosso tempo e do nosso chão.
E conseguimos.
Mais de trezentos intercâmbios já atravessaram as fronteiras da nossa escola. Cada viagem, cada encontro, cada parceria carrega a marca de uma transformação silenciosa e irreversível. Neste momento, dez estudantes e dois formadores estão em Jena, na Alemanha, berço do romantismo, cidade onde filosofia e arte se encontraram e deixaram rastros no mundo. Lá, junto à Freie Bühne, vivem um intercâmbio que é também travessia – financiado com recursos europeus, sem verbas públicas brasileiras.
Penso na Julia, 19 anos, de Franco da Rocha, que pisa agora, pela primeira vez, em solo estrangeiro. Ela, que gosta de sapateado, de tarô e de MPB, carrega consigo o espanto da juventude diante da realização de um sonho. Penso também em Victor, estudante de direção, que encontra alegria em andar de bicicleta, pular corda e aprender pandeiro. Ou em Nayara, figurinista, que transforma maquiagem em linguagem e vê nesse encontro uma chance rara de mostrar a alemães, turcos e libaneses que o Brasil é feito de cores e gestos singulares.
É por essas histórias que digo: nossa escola nasceu internacional. Mas internacional não no sentido de se perder do lugar de onde vem, e sim de se expandir, de se abrir para o mundo e, ao mesmo tempo, abrir o mundo para o que somos. Ainda neste semestre, outros dez estudantes viajarão para Portugal, dois para a Noruega. E, em nossas salas, já respiram conosco artistas vindos da Índia e da Alemanha, que aqui compartilham seus percursos e ensinamentos.
Temos também intercâmbios pela América Latina e pela África – um ir e vir marcado pela curiosidade e pelo respeito às culturas, todas elas, de onde quer que venham.
Às vezes penso que a SP não é apenas uma escola. É uma dobra no tempo, onde passado e futuro se encontram na pergunta inaugural: “Que escola você gostaria de ter estudado?”. Dez nomes sonharam essa resposta, mas centenas de vidas continuam, todos os dias, a reinventá-la.